MARATONA DOS PERDIDOS - ULTRA-AVENTURA
- Fernando Nazário
- 21 de jul. de 2015
- 3 min de leitura
A corrida de montanha e os caminhos do autoconhecimento
Podemos começar com o significado de autoconhecimento? Conhecimento de si próprio, das suas características, qualidades, imperfeições e sentimentos que caracterizam o indivíduo por si próprio. Que bom, agora podemos falar sobre corrida de montanha e o que ela representa. O significado de autoconhecimento pode também responder todas as pessoas que me perguntam porque eu corro. Alguém mais se identificou ?

Fernando Nazário chegou em 7º lugar na Maratona dos Perdidos
Semana de muita chuva em Curitiba e a organização da prova e atletas que já competiram por lá nos informaram a todo momento das condições do terreno. Assim, só restava preparar psicologicamente pra enfrentar uma das provas de montanha mais difíceis que já participei. Às 7 da manhã do dia 18 de julho com um tempo muito bom, céu azul e quase nenhum frio, LARGAMOS. Eu desejei uma coisa e as montanhas com uma surpresinha pra mim. Eu queria passar rápido por ela e ela me forçou a ficar um pouco mais, igual quando nossos avós nos pedima pra comer mais um biscoito e você apressado. Não trato isso como uma luta entre eu e ela e sim uma troca.
Durante a competição foram os primeiros 4,5km de estrada morro acima e o restante entre lama e brejo pra subir e descer. Ruim? Pra mim não! Meu início não foi como eu queria, minha descida não fluía, mas meu coração e minhas pernas não sabiam o que acontecia, mesmo assim, eu seguia. Cada montanha que eu escalaminhava a energia e a vontade de continuar aumentava. Quando cheguei no Km 21 -PA, comi uma paçoca, mentira duas ou melhor, não lembro, tomei "aquela" coca cola e fui muito bem auxiliado por staffs fantásticos e atenciosos como todos no caminho.
Quando saímos, eu e outro grande atleta Gabriel Picarelli, rumo a terceira montanha e começávamos a descê-la, vêm a surpresa "onde estão as marcações"? Ficamos parados e ali entendemos o significado do nome da prova: "Maratona dos perdidos". Ficamos parados por volta de 10 min para esperar outros atletas e um deles nos indicou o caminho a seguir, FOMOS, mas quase ficamos.
Mais uma estrada curta e começamos a subir o gigante e pra mim desconhecido Morro do Araçatuba. Eu que não havia feito um bom início comecei a melhorar muito e decidi que faria o máximo de força a partir deste instante. Uma subida grandiosa e com o melhor visual que poderia ter. Quando a subida acabou, restou descer igual a um "trem desgovernado" pra melhorar algumas colocações entre trancos e barrancos. Uma pausa para pegar água, mais lama e os últimos 500 metros até a meta.
Passei o pórtico de chegada e agradeci a Deus por mais um ano de vida (faria aniversário no dia seguinte), pelo presente e pela saúde de conquistar meus objetivos e ser feliz com meu esforço. Porque você precisa ir ATÉ O FIM pra compreender o verdadeiro significado da busca! Foi meu presente de aniversário.
O que a montanha e a vida nos ensina? Começar por baixo e com humildade para sermos merecedores da visão que você só encontra nos picos da vida. Conheci atletas "pessoas" grandiosos e aprendi muito com todos no meio do caminho foram fonte de inspiração e aprendizado. Atletas da maratona dos perdidos que com uma coragem sem fim deram mais um passo pra uma vida cheia de significados. O que eu sei é que se desejamos compreender algo e as montanhas, devemos começar com nós mesmos e amar o que fazemos sem críticas. Devemos brincar com ela, observar seu poder, aproveitar ao máximo o que ela tem pra oferecer. É que, é que ... para criarmos um novo mundo é preciso liberdade: e eu sei onde encontrar!! Obrigado a todos pela energia.

Fernando Nazário é ultramaratonista, educador físico e professor universitário - mestre em Aspectos Biodinâmicos e Metabólicos do Exercício Físico. Com 33 anos, o atleta mineiro participa de corridas de aventura e de montanha pelo Brasil e pelo Mundo. Entre os títulos conquistados, Fernando Nazário é o atual campeão do Ultra Trail de Torres Del Paine (68,5 km), no Chile, e do Ultra Fiord (114 km), na Patagônia chilena.
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