UPHILL MARATHON - RELATOS
- Correr é Fácil
- 4 de ago. de 2015
- 7 min de leitura
No último sábado, atletas se tonaram NINJAS na Maratona mais difícil do Brasil, a Uphill Marathon. Subir a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, exige muito treino e força mental, já que além dos 42 km, os participantes enfrentam uma subida casca grossa e o ar rarefeito a cada passada.
Aos que participaram e, principalmente, aos que completaram a prova é o hora de colher os louros, curtir o momento e já se preparar para os próximos desafios. A equipe CORRER É FÁCIL parabeniza a todos.
Hoje, reunimos os relatos de alguns atletas e professores que estiveram e participaram da prova. Vale a pena conferir cada experiência. Vai te animar. Boa leitura!
Paulo Ayres - Cia Athletica

Em março me inscrevi para a prova, eu sabia que seria difícil, pois já conhecia a Serra, mas lá cheguei a conclusão de que era bem mais difícil do que imaginava. A única coisa que passava na minha cabeça era a linha de corte e terminar a prova antes das 5h59min59seg, pois fora deste prazo seria desclassificado.
Então vamos para a primeira etapa chegar ao km 18 em 2h35min linha de corte, passei com 1h56min, estava em um ritmo bom e tranquilo, nova etapa chegar aos 30 km com no máximo 3h40min, cheguei com 3h35min, assim teria 2h24min para o pior os 12 km finais, onde a elevação é máxima. Segui meus objetivos, agora era chegar vivo aos 36 km, pois dos 36 km aos 41 km é de matar quem já esta morto, aos 36 km panturrilhas e posteriores de coxas já não existiam mais.
Só pensava faltam 5 km de subida e mais um no plano, são 6 km para a gloria nada mais do que isto, não posso e não vou parar agora. Comecei a ficar enjoado e meio tonto, respirei fundo olhei para o chão e segui em frente, aos 38 km o pace estava diminuindo cada vez mais, só pensava no filme da divulgação da prova que falava "a Montanha vai te engolir", mas isto comigo não iria acontecer, eu é que venceria a Montanha. Tinha tempo suficiente para ir devagar e chegar dentro do prazo, entre o km 39 e 40 comecei a ouvir a música da chegada, vozes e som, pois a maior parte da subida foi no total escuro e sozinho.
Quando cheguei no 40 km pensei agora só mais um de subida e deu, "não paro nem por decreto", no km 41 um alívio, uma alegria, venci a Serra agora é correr para a linha de chegada e minha medalha, consegui medalha no peito e finalmente entendi a frase do Pórtico de largada, "Aqui se fabrica LENDAS" Ninjarunners. Fato subir a Serra do Rio do Rastro é somente para Ninjas e LENDAS Vivas e agora sou uma delas! Agradeço a todos pela torcida e energia positiva isto foi determinantes para o sucesso desta conquista!!!!!
Percurso: 42 km Tempo: 5h47min Subida: 1.526 metros
Diego Motta - Di2 Assessoria Esportiva

Sem dúvida a prova mais árdua, pesada e sofrida que já fiz na vida. Resumindo seria isso, porém não foi apenas um resumo e sim um verdadeiro filme com roteiro, início, meio e fim, que teve seu primeiro ato em 2014 quando despretensiosamente me inscrevi para essa prova sem nem mesmo saber do que se tratava, apenas por sorte e digamos certa "zoeira". Foram exatos 11 meses de expectativa, angustia e ansiedade até chegar o tão esperado dia 1º de agosto de 2015. Todo o treino, todo o preparo, todo o foco tudo que envolvia esse cenário mágico estava pronto e tinha sido feito, ou seja era só chegar lá e fazer o que tinha que ser feito, mas como sem uma estratégia? Segundos antes da largada não sabia o que fazer, qual estratégia adotar, afinal provas de longa distância, não são como tiros curtos de 3, 5 ou 10km, exigem inteligencia e não basta apenas sair correndo, ela te pune, te cobra e te faz sofrer caso você adote a escolha errada. Perguntava para alguns corredores "eaí, qual a estratégia?" mas ninguém falava coisa com coisa, talvez o nervosismo ou até mesmo o jogo que envolve participantes mais competitivos. Ao som de Enter Sandman foi dada a largada e já não havia mais tempo para nervosismo. Imprimi um ritmo forte, porém suportável e após o segundo Km, resolvi manter e ir apertando mais um pouco a cada Km. Ataquei as subidas, soltei tudo que tinha nas descidas e assim já tinha fechado 5km para 21' o que para uma maratona é um atrevimento, pelo menos para um atleta do meu nível técnico. Os 10k foram fechados para 44' e meu ritmo continuava constante. Corria com um pelotão forte que tinha a líder feminina puxando a fila e mais alguns atletas de alta perfomance o que confesso me intimidou um pouco, mas misteriosamente o cansaço não vinha, meu corpo respondia a cada estimulo e a confiança me tomava de uma forma incrível, foi aí que me dei conta que seria possível minha tão sonhada meta que antes da prova só tinha compartilhado com amigos mais próximos, o SUB4. Meia prova havia se passado e os 21km foram feitos para 1:29 alto, abaixo da minha expectativa inicial que era de 1:30, continuava cozinhando a líder feminina, quando começamos a pegar algumas estrada com breu total, nada era possível de se enxergar, sensação de correr com uma venda nos olhos, apenas com o som dos passos e da respiração como guia. Essa insegurança me fez tirar um pouco o pé o que acabou com o meu contato com o pelotão. Me vi sozinho, no escuro e no frio, perdido, rezando para que um carro ou uma moto-staff com aquele farol amigo desse uma clareada no caminho, mas foram raras, então segui minha corrida em braile. O frio também começava a incomodar, demais por sinal e a prova que tinha um ritmo forte começou a migrar para o mais conservador. Dei tudo que tinha nos primeiros 25km, o que me gerou uma certa "gordura" para continuar um pouco mais tranquilo, sem forçar tanto pro resto da prova, uma vez que sabia que sofreria de qualquer jeito quando chegasse na serra, mas maratonas não mandam recado, ainda mais sendo de nível insanos como essa, e ainda sem caminhar fechei 30km. Foi aí que a prova realmente começou pra mim. Km31 e a dona panturrilha começou a visgar, muito por sinal, do nada e ao olhar os 30,4km do GPS senti medo pela primeira vez, afinal faltavam mais de 12km e já estava com dor. Não era pra ser assim, não tinha planejado assim, mas vamos com o que temos. As subidas já não deixavam-me correr, intercalando trote-caminhada fui passando km a km.
Nesse calvário cheguei ao 35km com 3 horas de prova, minha missão seria fazer 7km em 1 hora, algo até patético para o habitual, mas ali não era nada habitual e sim ao contrário, era na superação, na raça, na vontade pura e no desejo violento de que tudo aquilo acabasse logo. Estava sofrendo, minhas pernas já não respondiam ao comando de "CORRA" era um trote aos moldes de The Walking Dead e as ultrapassagens eram constantes. O olhar pra cima me vez ter medo pela segunda vez, era assustador, um paredão onde ao fundo se ouvia gritos e gemidos dos demais corredores sendo consumidos pelas câimbras e estiramentos. Muitos atletas literalmente atirados ao solo, davam um clima sombrio e mórbido aquele momento. O frio já era conivente com a situação e a dor insuportável, porem o sonho do sub4 se mantinha vivo e era nisso que eu me agarrava. Ao chegar no 40km já era nítido o som da galera na chegada e as ultimas curvas estavam sendo feitas, o tempo se esgotando e a fadiga muscular já em nível absurdo. Minha panturrilha contraia e relaxava involuntariamente, meus posteriores não doíam mais, ardiam. Já não tinha mais noção plena do que estava acontecendo e as subidas não acabavam nunca, era constantes e infinitas, quando finalmente uma reta plana surgiu... Não acreditei.... sério, aquilo tinha acabado, venci a serra, a escuridão por um momento retornou e um terreno plano, comparado ao que havia passado, apontava em minha frente. Sentei a bota e corri literalmente pro abraço. O relógio mostrava 03:56:10 quando olhei por último e quando vi que conseguiria, minha felicidade chegou ao nível extremo, era tanta alegria que parei antes da chegada para comemorar, o que me fez perder uns 15 segundos, não importa, pois ninguém me tiraria aquela marca!!!! UPHILL, SOU LENDA, SOU NINJA, SOU SUB4, SOU 03:57:55. Após a chegada, baixou a pressão os olhos escureceram e tudo mais que tinha que acontecer aconteceu, ouvia meu nome ao fundo mas não conseguia identificar quem era, fui recolhido e colocado numa sala onde aos poucos fui recobrando minha definição e sensatez, um pós prova que jamais havia visto, excelente nível profissional. Dividir backstage com grandes nomes do running nacional é demais, mas não fazia tanta diferença naquela hora, porque eu só queria curtir minha sofrência!!!
Cleimar Tomazelli - Cia dos Cavalos

A 3° edição da Mizuno UpHill foi uma prova extremamente dura, porém muito apreciada e elogiada por todos. Conversando com diversos atletas que correram a prova, a única crítica que fizeram foi a falta de iluminação entre o 20° km e 32° km. Creio que a organização da prova deve dar atenção especial a esse ponto em 2016, visto que novamente teremos a edição noturna.
Sobre os pontos positivos, podemos falar da excelente hidratação oferecida durante o percurso em mais de 10 pontos de apoio aos atletas. Da entrega dos kits muito bem organizada. Do congresso técnico muito bem conduzido.
Além da palestra fantástica da médica brasileira que chegou ao cume do Everest. Especificamente sobre os resultados da prova, houve uma surpresa no naipe masculino, onde os favoritos Adriano Bastos, Cleverson Del Secchi, Gabriel Picarelli e o Campeão de 2014, Tadao, foram surpreendidos pelo carteiro Paulista, Marcelo Rocha, que foi o Grande Campeão dessa edição batendo o recorde da prova ao concluir a Maratona no asfalto mais difícil do Brasil em 3h12min19seg.
No feminino, sem contar esse ano com a Campeã de 2014 que está na Escócia treinando para o Campeonato Mundial Militar, a prova contou com a presença da grande Triatleta Olímpica, Carla Moreno, que não deu chances as adversárias e também bateu o recorde de 2014 ao fazer o tempo de 3h40min08seg. Para 2016 o evento contará com uma grande novidade que será a prova de 25 km, com largada as 7hs da manhã. Além da Maratona que continuará com a largada as 16h30min. Serão analisados os currículos de 25 sortudos que terão a chance de correr as duas provas, chamada de DESAFIO SAMURAI.
Provavelmente, o RS será representado no naipe masculino desse desafio pelo Cavalinho, Gabriel Picarelli, que já requisitou a sua presença junto a organização do evento. Enfim, recomendo a participação de todos, desde que façam uma boa preparação para essa pedreira em forma de Maratona.


























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