RUMO AO WORLD IRONMAN - CHEGOU A HORA!!!
- Walter Tlaija
- 9 de out. de 2015
- 4 min de leitura
Agora são 10:25 aqui no Hawai. Estou sentado na varanda da casa que alugamos, eu e meu irmão, no alto de uma pequena serra, de frente pro mar, afastada 25km de Kailua Kona, local onde acontece o World Ironman Championship. Sossego total. Aqui é menos quente do que lá, a vegetação é vasta, há menos pessoas circulando na rua, menos barulho. Terminei de arrumar, há 10min, o material para a prova de amanhã – capacete, sapatilha, alimentação para o ciclismo, tênis, boné, óculos, cinto para o número de peito, alimentação para a corrida, roupa para a natação. Logo mais, às 14:30, começa o checkin das bikes. Aí, enfim, a ficha vai caindo e a prova vai, de fato, começando a acontece.

Ontem, no jantar de boas vindas, que precedeu o congresso técnico, houve apresentações de música e dança típicas daqui. Muito legal! Contaram um pouco da formação do povo e da cultura locais. Foi explicado o sentido da palavra “Onipa’a”, que é, digamos, o “slogan” da prova desse ano. Significa persistência, perseverança, força de vontade, cair e levantar, aguentar as adversidades e tentar de novo. Isso foi o que os anfitriões, o povo havaiano, nos desejou ontem. A gente daqui, desde os primeiros habitantes, enfrenta inúmeros e severos obstáculos climáticos: ventos fortíssimos, calor extremo, tsunamis, vulcões em erupção, etc. O povo aprendeu com a natureza a ser forte e resistente. Essa foi a principal mensagem de ontem, que tomei pra mim e comigo carregarei durante cada quilômetro amanhã. A coisa aqui é braba! A prova será bem dura, como sempre, por conta do vento e do calor.
Estou me sentindo muito bem, bem preparado, bem treinado, descansado, confiante e louco, absolutamente maluco para competir! Na véspera de provas importantes, gosto de mentalizar, de olhos fechados e concentrado, cada pedacinho da prova, desde a largada até a chegada. Fiz isso ontem e refaço agora, enquanto escrevo. Visualizo a natação, que pra mim é o período mais desconfortável e conturbado, e no qual a calma tem que prevalecer. Não adianta força, não adianta brutalidade. Tem que ser na manha, no jeito, na concentração. A pancadaria é grande, principalmente nos primeiros 500m. Só depois disso é que dá pra nadar, de fato.

Saindo da água, me concentro na transição para o ciclismo. Não adianta ter pressa, mas perder tempo é burrice. Repasso cada gesto, em ordem, até subir na bike. Agora começa a guerra. Penso nos primeiros kms, nos quais o importante é encontrar a posição certa, encaixar a respiração, aplicar uma boa cadência na pedalada. Mentalizo o vento absurdo e o calor, a alimentação, a hidratação. Me vejo ultrapassando muita gente, pois saio atrás da água e pedalo bem, mas vejo também muita gente me ultrapassando, já que isso aqui é o mundial, aqui estão os melhores e o nível é altíssimo. Me concentro na subida até Havi, longa e com muito vento lateral, em rajadas.
Penso nos últimos 45km, com a fadiga batendo forte, o calor massacrando e a maratona por vir. Nos últimos 5km trato de soltar bem as pernas, imprimindo uma cadência alta na pedalada, de alongar todos os músculos que conseguir, de movimentar braços e cabeça, na tentativa de aliviar a tensão e começar a corrida com o corpo leve, confortável. Mentalizo a segunda transição. Nessa a dor aparece. Fica difícil calçar os tênis. Nos primeiros dois kms a meta é soltar o corpo e se adaptar à nova modalidade, acertar a postura e a respiração. Até a metade da maratona, mais ou menos, vai relativamente facil. Depois disso é que a prova começa de verdade.

Nos últimos 20km é que o bicho pega! Aí vira sobrevivência! Foco meu pensamento nisso, com a maior concentração possível. É o momento mais importante de toda a prova. É o período em que todo o esforço pode escorrer pelo ralo ou confirmar uma bela participação. É dessa parte da prova que eu mais gosto. É quanto me sinto à vontade, quando preciso tirar forças sei lá de onde, quando o corpo inteiro dói, quando muita gente caminha, quando a linha de chegada é o maior objetivo. Penso muito nessa parte, nos últimos 20km, e principalmente nos últimos 10km. Por fim, mentalizo a chegada, os últimos 500m, a alegria que vou sentir, a energia da galera gritando e vibrando. Vai ser de mais!!!
Bueno, não vejo a hora de ouvir o tiro de canhão que sinaliza a largada e dar início a essa que será, sei que sim, a prova mais incrível que eu terei feito! Estar aqui e competir no mundial nunca foi meu sonho. Nunca tive sonhos no triathlon e não acho que isso seja fundamental. As coisas foram acontecendo ao natural, sem muita pretenção minha mas com muita dedicação e muito treino, simplesmente porque gosto disso e assim sou feliz. Curti cada dia da preparação para esta prova, assim como curtirei cada quilômetro amanhã. Conto com a torcida de vocês, mesmo de longe, e que comece a festa!!!

Walter Tlaija é triatleta, gaúcho, e se classificou para o Mundial Iron Man 2015 em Kona, no Havaí. Colunista do CORRER É FÁCIL, ele escreve sobre os seus treinos e preparação para esse que será o maior desafio da carreira dele.


























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