MARATONA DO RIO GRANDE DO SUL - DIEGO MOTTA E JOSÉ SARAIVA
- Diego Mota e José Saraiva
- 21 de out. de 2015
- 6 min de leitura
DIEGO MOTTA
Quando competimos em uma prova longa e em dupla, não saímos correndo pura e simplesmente como se fosse uma corrida normal, traçamos uma estratégia para que o êxito na mesma seja alcançado com sucesso e quando decidimos formar essa dupla meses atrás, o atleta e amigo José Saraiva e eu combinamos algumas coisas como ordem de largada, ritmo de prova, duplas concorrentes e etc. Porém imprevistos acontecem, como quase largar sem o chip, com o nervosismo acabei esquecendo de pegar e só fui sentir falta minutos antes da largada, sorte que deu tempo.
Como sempre foi uma vontade particular minha, terminar uma meia maratona abaixo de 01 hora e 20 minutos, vi essa uma excelente oportunidade para tal marca e foi com esse propósito inicial que larguei forte sempre beirando o ritmo de 3’45 a 3’50 por km me dosando e poupando fôlego para a segunda metade da prova (a partir do km12), onde geralmente comigo acontece a quebra. Porém o vento forte na área próxima ao Barra Shopping me fez fazer mais força para manter o ritmo e também o grande tráfego de atletas retornando das provas de 10 e 5k, me deram um cansaço além do previsto, mas ainda estava na disputa. Estava muito frio e a solidão em determinadas partes da prova as vezes te deixa meio perdido nos pensamentos, uma vez que provas desse naipe requerem uma mente tranquila e focada. Estava tudo dando certo quando no km17 comecei a sentir os efeitos da fadiga muscular, tanto pela força a mais que fiz no início da prova quanto o peso de ter feito uma rustica no mesmo dia pela manhã.

Fiz de tudo para tentar manter meu ritmo, mas em vão. O pace não baixava mais, por mais força que eu fizesse e a única coisa que me motivava era entregar o chip em uma boa colocação para minha dupla. Em um dos retornos contei os atletas e percebi que estava em terceiro com o quarto na minha cola sendo ultrapassado pelo mesmo no 20km, essa quebra me fez deixar escapar minha meta do sub 01:20 pois já marcava no relógio 01:21, porém ao olhar para o relógio também vi que já havia ultrapassado os 21,09 (distancia oficial de uma meia maratona) daí foi que o psicológico precisou para desmontar de vez. Via o terceiro colocado abrir mais e mais e o pórtico se aproximando para minha alegria e alívio, já estava exausto loco pra acabar com aquilo de uma vez por todas tanto que meu pior quilômetro foi o último para 4’01”.
A organização da prova, meia perdida, quase me fez errar o caminho duas vezes e também na chegada ninguém orientava o que era para ser feito, fui por osmose e entreguei o chip para minha dupla, rezando para que ele buscasse as posições que eu havia perdido.
Enfim consegui relaxar ao ver meus amigos e colegas de equipe (Di2 Sports) minha parte havia sido feita, minha torcida para que tudo desse certo nunca foi tão grande e essa sensação de trabalho em equipe é muito especial e diferente. Recomendo.

JOSÉ SARAIVA
Sábado foi um dia de muitas emoções, sacrifício e conquistas na Maratona do Rio Grande do Sul, na qual eu tive
a honra de fazer dupla com o Diego Motta. Já que não poderíamos fazer a TTT juntos, pois já estamos com as equipes montadas para prova que ocorrerá em Janeiro de 2016, resolvemos que iriamos fazer o revezamento na Maratona, independente das equipes que cada um representa, até porque essa questão de rivalidade que muitas assessorias pregam e disseminam internamente não faz parte da nossa filosofia e muito menos das equipes pelas quais corremos e representamos. Esse cara com quem eu corri tem no Currículo uma TTT SOLO, com apenas 2 meses de treinamento, uma Uphill Marathon abaixo de 4 horas e tá simplesmente voando nas provas curtas, tudo isso graças ao trabalho ministrado pela noiva e coach, Ariane Araújo.
Ao chegar na tenda da R.A RUNNERS por volta das 19hs, fui recebido com muita atenção e carinho pelos meus parceiros de equipe que se engajaram de forma gigantesca com os acontecimentos das ultimas semanas na região metropolitana, inclusive a cidade onde moro, Eldorado do Sul. Inúmeras doações de alimentos, roupas e calçados estavam ali me esperando para serem levadas para serem encaminhadas para doação após a prova e a cerimônia de premiação. Muitos amigos de outras assessorias e até mesmo quem eu não conhecia até o momento se solidarizaram com a causa e contribuíram também com seus donativos. Isso que eu divulguei de ultima hora que faria o recolhimento das doações.

Como eu iria fechar a prova, pude acompanhar toda emoção da largada de uma Maratona e ver meus amigos desbravando cada quilômetro das ruas de Porto Alegre, travando uma batalha contra o frio e o vento que se faziam presente na noite da prova. Pude conversar com outros corredores que fariam também a prova nas mais variadas distâncias e ver minha dupla largar (quase que sem o chip HAHAHA). Passada a euforia acompanhei a chegada dos 5km/10km e alguns corredores cruzando o quilômetro 12 que passava próximo ao local de largada. Logo depois resolvi colocar a “armadura de guerra” e aquecer numa rua paralela próxima a prova, me hidratar um pouco mais e ir para o posto de troca do revezamento. Quando fechou 1h14 chegou o primeiro colocado do revezamento masculino, um tempo “absurdo” levando em conta que o percurso tinha 500m além da metragem correta, fechando 21,6km. Logo depois chegou o 2º colocado e aproximadamente 3 minutos praticamente juntos, chegou o 3º colocado e o Diego que fechou a parte dele em incríveis 1h23:15, batendo sua melhor marca em quase 4 minutos mesmo com a distância mal aferida.
Peguei o chip e fui pra luta, mirando os demais corredores que estavam relativamente próximos e no km 5 consegui encostar no 3º colocado das duplas masculinas e no 5º colocado da Maratona solo que vinha num ritmo compatível com o meu, e por um grande trecho fomos revezando posições e tentando economizar energia devido ao vento que vinha do Guaíba.
A partir do quilômetro 13 vi que estava fazendo muita força para tentar manter os 4’10” e o ritmo oscilou demais,
me deixando com dúvidas se eu conseguiria manter a terceira colocação ou quem sabe buscar uma segunda colocação. Mas como eu conseguia visualizar, mesmo que de longe o 2º colocado isso me deu a motivação necessária para amenizar as dores na panturrilha e na planta no pé, preço que paguei por ter ficado 1 semana completamente sem treinar e ter corrido rústica em Guaíba, de manhã. Num dos retornos na Avenida Loureiro da Silva a vantagem do 2º colocado sobre mim era de aproximadamente de 1 minuto, me baseando pelo ponto de referência que era uma das placas de quilometragem. Em cada km eu conseguia tirar alguns segundos de diferença, apesar das quebras de ritmo e no ultimo retorno, no meio da Avenida Mauá eu estava a cerca de 300m de distância do meu “alvo”.

Quando cheguei no Gasômetro resolvi partir pro tudo ou nada e usar as ultimas forças que tinha pra buscar o segundo lugar. Apertei o ritmo e assim que consegui ficar lado a lado do outro corredor, tentei manter o mesmo ritmo para que ainda tivesse uma energia para o sprint final, caso surgisse um ataque surpresa. O ritmo dele deu uma leve caída e consegui abrir alguns metros de distância, mas sempre com receio de ser surpreendido. Ao ver as luzes, o pórtico de chegada e ouvir narrador dizendo que estava chegando mais um corredor, a ficha começou a cair e toda dor parecia ter dado fim de forma brusca. Muitos amigos vibraram, gritaram e comemoravam a chegada, mas minha única reação foi manter-me focado no cronometro chegada, tamanha vontade de cruzar a linha e garantir o nosso pódio, que foi planejado e traçado através de muitos treinos, conversas e acima de tudo raça. Como diz um dos nossos maiores ídolos do atletismo, Steve Prefontaine, "Várias pessoas correm para ver quem é o mais rápido. Eu corro para ver quem tem mais raça".
Apesar de ter alguns pódios na minha “carreira” como corredor de rua amador, sequer tinha rompido uma fita de chegada. O sonho foi realizado em grande estilo numa noite memorável e alguns metros depois meus olhos marejaram e comecei a soluçar, mas a euforia de meus amigos presentes abafou qualquer barulho e o mantra “sofri calado” nunca se fez tão válido.
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