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PARADA FORÇADA - FELIPE BOSS

  • Felipe Boss
  • 30 de out. de 2015
  • 4 min de leitura

Tudo começou no segundo treino pós maratona de Porto Alegre, a primeira sessão de treinos após a minha estréia na distância mais nobre do atletismo. Estava eu a iniciar preparação visando a Uphill Marathon que aconteceria em 01 de agosto, eu tinha menos de 2 meses pra estar tinindo. Quando lá pelo vigésimo minuto de trote, veio a dor no joelho direito, dor esta que seria minha companheira durante muito tempo.


Interrompi meu treino e fui pra casa, fiz todo o processo normal para quem vinha de uma prova tão dura, no mínimo 3 vezes ao dia eu usava gelo na região lesionada. Os dias passaram e tentei voltar novamente, uma vez mais a dor que me fazia perder a estabilidade no movimento, se fez presente me mostrando que ainda não era à hora da volta.



Fui ao médico e nenhum problema ósseo foi constatado, mas sim uma gigantesca inflamação atrás dos tendões, que já havia virado uma bursite. Então em conversa com uma fisioterapeuta amiga minha, fizemos um tratamento chamado terapia neurocinética, onde constatamos que minhas lesões anteriores não haviam sido curadas de forma plena. O tratamento foi dolorido ao extremo, incontáveis momentos em que eu me contorcia de dor a cada estocada dos punhos e cotovelos dela nas lesões. Tentamos de tudo, inclusive passei a correr dentro da piscina com o cinturão de EVA, o chamado Deep Running. O que muito me ajudou a não perder totalmente a parte aeróbica e o volume de treinos. Era duro ver meus amigos em fase final de polimento para a Uphill e eu ali sem saber se iria ou não.


Seguimos assim até 15 dias antes da maratona mais difícil do Brasil. Os dias passavam e eu ali na incerteza de voltar ou não, até que veio o dia D pra mim. Fiz todos os testes possíveis e rezando pra não sentir dor. Ela veio, mais intensa do que nunca, me mostrando que quem mandava em meu corpo era ela. O pranto chegou forte, o filme da minha vida na corrida, passou diante de meus olhos tal qual Usain Bolt vence os 100m rasos. O que eu faria agora? Estava fora da prova a qual eu cobiçava e queria mais do que qualquer coisa.


​​

Os dias seguiram e procurei ajuda de um acupunturista. Foi minha salvação, Dr. Leandro Blumm fez um trabalho comigo fora de série. Por ser um cara do esporte (praticante de Jiu Jitsu), ele entendia meu lado atleta. Passou toda a experiência dele no esporte e na fisioterapia, ele prometeu-me colocar em condições para estar presente na Golden Four da Asics em Brasília no dia 8 de novembro. De fato o fez, nossa relação no consultório virou uma boa amizade, troca de experiências e de muito trabalho psicológico. Talvez o Dr. Leandro não saiba, mas além das agulhas mágicas espetadas no meu corpo, o trabalho psicológico que ele fez comigo foi o combustível que faltava pois eu já não acreditava mais em meu retorno às pistas.


Sigo com o tratamento, mas com toda certeza eu estarei em Brasília. E aí um capítulo que deixo por último por ser talvez a parte mais importante de todo esse tratamento. Falo de Elizabeth Becker, minha namorada. Essa pessoa foi enviada do divino pra mim, pois sem ela com certeza eu não teria retornado. Foi no colo dela que eu desabei quando da negativa de ir a Serra do Rio do Rastro, foi no ombro dela que meus olhos secaram as lágrimas da incerteza e foram os ouvidos dela que ouviam todo santo dia durante os 127 parados, minhas tristezas e minhas frustrações. Fosse outra, teria me mandado passear, mas não a Eliza, a minha Eliza é especial. Me fez sentir que dava e não desistiu de mim em momento algum. Dizem que por trás de um homem existe uma grande mulher, no nosso caso é na frente, atrás e pelo lados. Definitivamente ela é demais.



Durante este período parado, foi impossível não traçar um paralelo com um atleta do futebol profissional. Um atleta desses tem toda uma estrutura a disposição e não gasta 1 real do seu bolso pra poder se tratar. Muitas vezes nem fazem força pra voltar, afinal de contas o polpudo salário cai na conta todo mês. Eu como atleta amador, vivo todo o lado romântico do esporte, de por sangue nos olhos e ir até não poder mais.


Saiu do meu bolso o tratamento para enfim estar apto a correr novamente. Eu, um cara sem resultados expressivos, longe de correr com a elite do atletismo gaúcho, mas um apaixonado por este esporte. Me questionava dia após dia como um atleta tem tudo a disposição e ainda faz corpo mole? Triste isso, mas esta é a diferença entre "profissionais" e atletas, o amor ao esporte.


Então é isso, exatos 127 dias depois eu retornei. O treino? Apenas 35min de trote, o suficiente pra me fazer encher os olhos d'água por finalmente não sentir dor no bendito joelho e por poder voltar ao convivo desse esporte mágico chamado corrida. Aquele que me amparou quando todos os outros já haviam desistido de mim. Quando terminei o treino agradeci a Deus por estar de volta e sem dores. Ofegante e 6kg acima do peso, mas feliz pela volta.



Durante todo o tempo parado, muitos foram os momentos os quais eu achei que não ia dar pra voltar e que minha carreira como atleta amador de corrida estava encerrada. Mas eu estava errado, ainda bem. Pois volto mais forte do que nunca. Neste tempo todo parado, me dediquei a natação e aprimorar um dos esportes que vai me levar ao Ironman Brasil em 2017. A idéia de virar lenda na Uphill Marathon (slogan da prova), não está excluída de meus pensamentos, apenas foi adiada. Nosso encontro não tem data marcada mas sei que vamos nos confrontar. Este embate está marcado, na data que Deus achar que eu mereço ir e estiver pronto.


E foi assim que eu voltei, em breve mais fininho e mais intenso do que nos meus melhores dias, pois tenho certeza que ainda não vivi meu melhor momento no atletismo. Volto mais maduro, mais respeitoso e com muito mais fé. A todos que torcem por mim e se sensibilizaram com minha história, meu humilde e sincero agradecimento. Cada "VAI BOSS" que eu ouvi, foi de suma importância para o retorno. E agora nos vemos no lugar que eu mais gosto, a linha de chegada.


 
 
 

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