MARATONA DO CÍRCULO POLAR - PROVA - RICARDO DECANO
- Ricardo Decano
- 31 de out. de 2015
- 3 min de leitura
Ainda tomado pela emoção de ter participado da 12ª Edição do The Polar Circle Marathon, mais especificamente no Polar Bear Challenge, provas realizadas na Groelândia, nos dias 24 e 25 de outubro deste ano, nas distâncias de 42km e 21 km, respectivamente, digo que, para corredores não-profissionais, como é o meu caso, foi uma tarefa árdua.
Cheguei na Groelândia no dia 22, e já pela manhã, fui com a organização da prova fazer o reconhecimento do trajeto em caminhão climatizado. No Ice Cap, ou Calota de Gelo, por onde percorreríamos no dia da prova um pequeno trecho de 6km, senti vontade de desistir tamanho o frio encontrado. Absurdo, vento congelante, lábios e rosto anestesiados. Voltando ao hotel, não me dei por vencido, me agasalhei e fiz meu primeiro treino. No dia 23, fiz meu segundo treino, agora me sentido mais à vontade, até porque a temperatura estava razoável, em torno de -14°C.

1º Grande dia: Maratona. Subimos de caminhão até o local da largada, no Ice Cap. O primeiro aviso era de aguardar dentro dos caminhões face aos fortes ventos que estavam soprando no local. Em seguida, pediram obediência às sinalizações do percurso, evitando os perigos de quedas em fendas existentes no local.
Não tinha volta para este gaúcho que nunca tinha visto neve. A vida anda sempre para frente. Eu estava lá com um único objetivo de desafiar este desconhecido gelado. Segundo a organização, os ventos eram tão fortes no Ice Cap que a sensação térmica chegou a -30°C. Assim como, não tem roupa que segure este frio, pelo menos roupas para a prática de corrida. Nada segurou a força dos ventos que sopravam neve em nossos corpos que, com o suor, formavam blocos de gelo dentro das camadas de roupa.

A cada quilômetro, uma voz que me convidava a desistir da prova...e assim foi até o quilômetro 21, quando, então, avistei um caminhão de abastecimento. Comi algo, bebi bebida quente, tirei meu protetor de pescoço que estava congelado, prejudicando minha garganta e então “entrei” na prova. Daí para frente, já com o sol querendo ajudar, corri por uma longa estrada alternando, neve e pedras, ou gelo liso escorregadio.
A cada distância que foi sendo deixada para trás, junto com as fortes emoções de saudades dos amigos, da esposa, da família, sentia que as forças estavam se esgotando e a natureza bela, mas sempre branca e extremamente gélida, mostrando a sua força no congelamento de rios e lagos, com temperaturas que ora oscilavam entre -13C e -15C, não eram uma boa fonte de energia que eu
poderia resgatar para o término da prova. Nada é impossível quando se quer atingir um objetivo. Treinei muito. Estava lá para o desafio proposto, e lembrando de todos que estavam me apoiando, consegui terminar a prova.

2º Grande Dia: dia seguinte, Meia Maratona; mais uma vez estaria no gélido Ice Cap, testando minha resistência novamente; mas os ventos haviam diminuído a intensidade, não o suficiente para aliviar a temperatura nesta camada maciça de gelo polar, mas não me intimidei, e também, com o maior sacrifício, consegui terminar a meia-maratona.
Aprendizado: muito treino físico e principalmente ter um desenvolvimento emocional muito equilibrado quando se está sozinho, sem os amigos, sem a família em uma prova extrema.
Mas tudo ficou bom no final. Missão cumprida. Poucos brasileiros em todas as edições da prova. Neste evento, havia outro brasileiro do Espírito Santo, participando da maratona. Recebi da notícia da organização que fui o primeiro brasileiro a realizar o Desafio do Urso Polar. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terrra....

Organização do Evento: honrosos elogios em todos os quesitos.
Agora de volta ao querido rio-grande, reorganizando os fusos horários, dedicarei os próximos meses de descanso e trabalhos de reorganização muscular, preparando-me para novos horizontes.
Valeu, até a próxima. Ricardo Decano.

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