DIÁRIO DE UMA EX-GORDA - SE A CANOA NÃO VIRAR
- Rosane Schotgues Levenfus
- 3 de nov. de 2015
- 3 min de leitura
A vida do gordo já é complicada pelo preconceito, e, muito embora os índices mundiais de obesidade cresçam sem parar, o ambiente nunca é adaptado e não ajuda em nada. Em roletas de ônibus parece impossível passar. Mesinhas de praça de alimentação com cadeirinhas fixas ao chão só pode ser piada de mau gosto. O gordo espicha o tronco, senta transbordando, solta o ar e deixa a barriga dividida ao meio entre a parte de cima e a de baixo da mesinha. Loja de roupas com vestiário minúsculo? Meia-volta volver.
O que dizer de banheiro de avião? Mulher gorda tem que abrir a portinhola, entrar de marcha ré, fazer o necessário e já estar na direção da saída. Aliás, os aviões são a versão moderna dos instrumentos de tortura. As aeronaves são apertadíssimas e as pessoas mais altas voam com joelhos apertados contra as poltronas da frente. Mulheres, fartas nos quadris e pernas, conseguem encaixar no assento saindo com o traseiro quadrado ao término do voo. Eu, que sou alta e farta nos quadris e pernas, já cansei de viajar me sentindo encaixotada.

Algumas pessoas preferem reservar assento na janela, outras no corredor, de forma que o assento do meio acaba sendo ocupado conforme o voo vai lotando. Impagável a cara dos vizinhos de um assento central quando vem vindo, pelo estreito corredor, um obeso. Ambos rezam no íntimo do seu ser que não seja, logo ali, ao seu lado, o assento do sujeito. Esse transbordará para as laterais mesmo que passe a viagem com os braços cruzados. Então ele passa pela fileira olhando os números nas plaquinhas, segue adiante e os dois passageiros das pontas imediatamente projetam pupilas ao teto e largam um suspiro. Em seguida, o gordo retorna, já que apenas guardara a maleta mais adiante e se acomoda gentil, pedindo licença, pois era ali mesmo seu lugar. Não é culpa dele que, certamente, também se sente constrangido. O local realmente foi projetado para pigmeus.

Além da situação aérea, tem a situação aquática. Se você também já andou de barco, deve ter passado pelo que passei: ser realocado ou para sentar no meio ou na ponta oposta a outro grandão a fim de manter a flutuação equilibrada. Que tal ir com a turma fazer um passeio a cavalo e ver a cara de pena dos tratadores escolhendo o cavalo que vai te transportar?
Reforço extra na corda da tirolesa, colete flutuante maior em esportes aquáticos, espera para iniciar o passeio de bicicleta, pois seu pneu parece murcho mesmo que com o outro ciclista estivesse normal, ter que entrar pela passagem dos cadeirantes, porque pela catraca não dá, ter que abrir mão de descer por um escorregador porque seu traseiro não passa por ali, ver que estão em dúvida se você está grávida ou não, sentir constrangimento em largar o peso do pé na pedicure, ter medo de que aquela mão que te ajudará a levantar da cadeirinha de praia não tenha a mínima ideia de quanta força terá que fazer.
Essas e outras histórias estão registradas nas memórias de quem é ou foi obeso. Por essas e outras, decidi emagrecer, além de querer me sentir mais leve, mais ágil, menos cansada, não pagar mais caro só porque a roupa GG consome mais tecido, enfim, lá vai outra lista!

Rosane e David (marido) antes da dieta adequada e da atividade física
Para emagrecer de forma mais eficaz, além da dieta, ajuda muito fazer alguma atividade física. Eu gosto de tudo um pouco, por isso falei bicicleta, barco e tirolesa. Sou da terra, da água e do ar! Entrei nessa dieta para rebentar.
Quem quer emagrecer deve entrar chutando a porta pela frente. Só não se jogue de mau jeito na canoa! Peça ajuda, use aquela mãozinha, colete salva-vidas, busque parceria e saiba para que lado remar. Ela não pode virar! Se a canoa não virar você chega lá!


Rosane Schotgues Levenfus é Mestre em Psicologia Clínica e Especialista em Neuropsicologia. Corredora há três anos, a psicologa é autora do livro Diário de uma ex-gorda e escreve crônicas motivacionais aliando corrida e força de vontade no Correr é Fácil.
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