ESPECIAL INDOMIT COSTA ESMERALDA - LUCINARA LUCHESE GUERREIRO
- Lucinara Luchese Guerreiro
- 8 de nov. de 2015
- 3 min de leitura
O que te faz feliz? Tomar decisões... Acho que essa frase, que é um tanto clichê, foi o minha maior motivação para iniciar os treinamentos para participar de uma das provas mais desafiadoras do Brasil - a Indomit Costa da Esmeralda - ainda mais 80 km, para uma ultramaratonista jovem, somente com duas provas no currículo.
Os treinos foram duros, a dedicação total, mas a vontade de conquistar toda aquela bela paisagem da Costa da Esmeralda com os próprios pés foi maior, então decidi encarar a "monstra". A expectativa foi grande, só aumentava a ansiedade, o medo batia às vezes, mas a vontade era maior. Conforme o tempo ia se aproximando da prova, mais segura eu ficava e conquistava a certeza de que ia completar.

Na última semana, o mau tempo mexeu com todo o terreno já acidentado, e a dificuldade gerada pela altimetria de mais de 5000 m acumulada se multiplicou, pelo acúmulo de lama na região. Até o trajeto da prova teve que ser modificado de última hora para a segurança dos atletas.
Enfim, larguei às 04 da manhã, sem chuva, com muito receio dos morros e das trilhas fechadas.... Fui com calma, cuidando ao pisar para não me acidentar e acabar o meu sonho na primeira trilha da prova. Aos poucos fui crescendo psicologicamente, principalmente quando fiquei sabendo, já no km 09 que estava na terceira colocação geral feminino. Por um momento fiquei em dúvida se iria conseguir manter assim até o final, mas como gosto de me desafiar, lancei-me mais esse desafio, o de ser destaque.

Para o sucesso de uma ultramaratona, a saúde psíquica e o auto-controle são fundamentais. Por isso, tive a maturidade de me preservar para não sair em alta velocidade nos trechos planos, pois ainda tinha mais seis morros enormes para conquistar. Tenho por hábito correr com música nos ouvidos, me distrai, me faz pensar na vida e como encontrar soluções para as situações difíceis na corrida, mas só pude usar este artifício quando clareou o dia, a fim de evitar acidentes. Tive que montar estratégias para passar por todo aquele terreno acidentado demais, para me preservar.
Até uma jaguatirica filhote eu vi no meu percurso, me senti uma invasora, e o medo foi avassalador. Pensava só em fugir da mãe dela.... Mas o terreno não permitia a velocidade. Respirei fundo e fui, com segurança para escapar dali rapidinho. Quando o dia clareou, fui me acalmando, voltando para a concentração do corpo e apreciação da natureza. Locais inóspitos, águas cristalinas, natureza com ar puro, me proporcionaram uma completa situação de bem estar, as pernas, os pés, os braços pelo uso constante dos bastões, me cansaram demais, mas eu não perdia o foco.

Chorei, sorri, cantei, gritei por mim mesma nos momentos de sofrimento, por que ali, era só eu e o "Cara lá de Cima" para chegar até o final. Me senti privilegiada, pois como conheço o local há muito tempo, consegui me situar no mapa e sempre sabia o que ia enfrentar no próximo km. Me alimentei o tempo todo, levei tudo o que precisava na mochila e fui firme até o km 60. Após isso, senti sinais de fraqueza emocional, o corpo cansado me deprimiu, tive que pedir novamente por mim mesma para ir até o final, tentando sempre manter a calma e a certeza que ia chegar.
Como já mencionei, a ultramaratona nos faz fortes pelo simples fato de lutarmos contra as reações naturais do nosso corpo, por que traçamos estratégias emocionais para driblá-las. Mas e a terceira colocação? Sim, ela se manteve, fui muito feliz em todas as tomadas de decisão, até mesmo na mais simples, alternar corridas e caminhadas para a recuperação do corpo.

Hoje, depois de ter corrido 80 km, com a emoção à flor da pele, me sinto GIGANTE, muito emocionada com o meu maior feito até agora. A cada ultramaratona realizada a gente fica mais forte, e traça outro desafio. No momento ainda não sei qual, só sei que preciso de férias para recuperar o corpo.
Dentro dos meus preceitos de humildade, eu não posso deixar de citar aqueles que me proporcionaram está experiência que é a ultra. Ao Francisco Rainone Junior, principal motivador, pela base, ao Eduardo Campelo, meu atual treinador, pelos ensinamentos, aos meus filhos que me conceituam #minhasupermãe, pela tolerância e ausência, pelos meus novos amigos os Glória Ultra Runners, que me auxiliaram nos treinos de morro.

Enfim, cheia de orgulho com o meu feito e com borboletas na garganta de tão feliz e emocionada, bato no peito e grito bem alto!!! Sou finisher da Indomit 80k e ainda, terceiro lugar como classificação geral feminina, me tornei indomável, com muita garra e determinação!
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