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ESPECIAL INDOMIT COSTA ESMERALDA - CLEIMAR RODRIGO TOMAZELLI

  • Cleimar Rodrigo Tomazelli
  • 12 de nov. de 2015
  • 5 min de leitura

A minha preparação para os 100 km do INDOMIT Costa Esmeralda foi das piores possíveis. O volume de trabalho aumentou bastante e nos últimos meses eu estou treinando, em média, 40 km semanais. Isso beira o ridículo para quem pretendia fazer uma prova de 100 km de montanha.


Sabendo das minhas condições para concluir o desafio, tracei um plano bastante cauteloso, onde o objetivo seria me poupar ao máximo na primeira metade para chegar em condições de superar a parte mais difícil que começaria só após o 46° km. Antes da largada estava muito tranquilo, pois diferentemente das provas planas, não correria contra o relógio, o que facilita bastante o lado mental.


Eu, o Jéferson, a Ângela e o Fernando, os 4 representantes da Cia dos Cavalos nos 100 km, largamos juntos e fomos assim até completarmos o 1° km. A partir dali, o Fernando e o Jéferson que estavam em melhores condições foram aos poucos se distanciando de mim e eu igualmente da Ângela. Nos primeiros 2 morros, bastante escorregadios, fui muitocauteloso, subindo e descendo ambos com extremo cuidado, pois não queria sofrer nenhum risco de colocar a minha prova fora, ainda antes do 10° km.


A partir do 12° km entramos na parte plana do percurso que nos levou a atravessar a BR101, em direção ao posto de abastecimento do 21° km. Parei lá rapidamente, apenas para tomar uns 15 copos de coca cola e segui em frente. Dali para frente foi uma longa estrada, com leves ondulações, que terminou no 30,5 km e de lá voltamos para o mesmo posto do km 21, só que com 39,5 km.


Cheguei bem cansado a esse posto e tomei um susto ao ver o Fernando e o Jéferson sentados, pois quando cruzei com eles na estrada do vai e vem percebi que estavam em um ótimo ritmo e praticamente entre os 10 primeiros colocados. Falaram que iriam desistir, pois estavam muito cansados. Eu nem ouvi direito e fui logo tomar sopa, gel, paçoca, mariola, coca cola, isotônico... Devo ter tomado mais de 10 copos de sopa, tamanho era a minha fome. Só não comi pedra porque não estavam servindo. Depois de quase 10 minutos ali comendo com os guris não acreditando que eu iria voltar a correr, virei o boné para trás, recoloquei a lanterna na cabeça, peguei dois outros amigos corredores pelo braço que estavam prestes a seguir e fomos em frente por mais 7 km de estrada plana, voltando para o outro lado da BR101, em direção ao mar.


Logo me distanciei deles, focando na pedreira que viria pela frente. Ao chegar no pé da montanha, exatamente no 46,5 km dei uma relinchada costumeira, baixei a cabeça e comecei a intervalar 1min de trote por 40seg de caminhada. E assim foi amanhecendo o dia lindo com os pássaros cantando uma melodia belíssima e inesquecível para aquele momento.


Entre muitos sobes e desces, além de diversos tombos na lama, finalmente cheguei na praia, no 63° km. Foram 6 km já com o sol forte ardendo nos ombros, onde consegui correr solto no pace de 6'/km. As pernas estavam inteiras, sem sinais de nenhuma câimbra, o que já era uma vitória devido a preparação pífia que fiz para o evento. Ao chegar no final da praia, no 69°km, parei para reabastecer a mochila de hidratação e logo após comecei a subir o longo km que me levaria ao ponto mais bonito da prova, o topo do Morro do Macaco. Lá em cima parei por uns 5min, contemplei a belíssima vista, tirei algumas fotos, postei no facebook, agradeço a Deus pelo momento e comecei a descer. Foi aí que a alegria começou a virar sofrimento.


No 71° km as unhas dos 2 dedões começaram a doer bastante, devido ao barro com pedrinhas que atritavam a ponta dos tênis com osmeus dedos. Entre o 71° km e 76° km foi um martírio, pois mal conseguia caminhar de tanta dor que sentia. Levei quase duas horas para percorrer esses 5 km. Tinha que descer pé por pé, literalmente, pois era a forma que menos doía. Agradeci a Deus quando cheguei na praia no 76° km. Tirei os tênis, as minhas de compressão e dei para um menino que estava por ali brincando. Voltei a correr com muito alívio de pés descalços por dentro da água, o que me aliviou e muito as dores que estava sentindo. Ao chegar no posto de abastecimento do 79° , liguei para o Jéferson que estava na chegada. Pedi para ele passar na pousada e me trazer os meus chinelos, pois seria a única forma de eu enfrentar a parte de asfalto e pedra que ainda viria pela frente.


Depois de quase 1h20min ele, o Fernando e o Matheus (nosso fisio), chegaram com o bendito chinelo. Eu já tinha comido toda a comida e tomado quase toda a água de coco que tinha no posto. Quase estavam me expulsando de lá. :) Peguei o chinelo na mão e segui até o fim da praia correndo descalço.




No começo do asfalto calcei os chinelos e voltei a correr lomba acima. Ultrapassei a Ângela e outros amigos que passaram quando eu estava parado e segui em frente. Nem parecia que já tinha percorrido mais de 80 km, pois no plano estava correndo a 5'20"/km naturalmente e sem nenhum sinal maior de fadiga. Passei por mais duas praias e aí "a porca torceu o rabo". Tirei os chinelos e comecei a subir o último e mais sinistro dos morros. Nunca vi tanto lodo na vida. Era impossível para em pé. Parecia que eu era um F1 andando na pista de pneu slick numa chuva torrencial. Cada 3 passos era um tombo. Foi aí que decidi subir engatinhando, pois era a maneira mais segura e rápida de progredir. Fiz aquele km em 28min. E os 3,5 km, entre a subida e a descida desce morro, eu cronometrei em 1h15min.


Agradeci aos céus quando começou o calçamento. Voltei a correr com tranquilidade. Cheguei no último posto de abastecimento, perto do 94° km , comi mais caminhão de coisas e fui adiante. Passei novamente pela Ângela, que havia me ultrapassado enquanto eu comia e faltanto menos de 1 km para o fim ultrapassei o Urbano, que havia passado no Morro. Avistei os Cavalinhos, Chris Wide e a Luciane Duarte gritando de longe e percebi que o desafio e a vitória pessoal estavam muito próximos do êxito.



Ao chegar na areia, cerca de 100m do pórtico, tirei os chinelos e Cruzei a linha de chegada dando um grande salto e comemorando muito, pois certamente foi uma das minhas maiores superações conseguir concluir esses 100 km, diante de tantas adversidades.


Agradeço todo o carinho e o apoio que recebi de todos os Cavalinhos e outros amigos, antes, durante e após o evento. Foi pensando em todos eles que procurei chegar ao fim e dar aquele salto. Mesmo diante de todos os percalços, mantenha o foco e nunca desista dos seus objetivos.


 
 
 

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