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ESPECIAL CASSINO ULTRA RACE - FELIPE CAMARGO

  • Felipe Camargo
  • 18 de nov. de 2015
  • 6 min de leitura

E tudo começou assim: parei de fumar, beber e comecei a correr.

Desde a primeira prova de 10 km que participei, percebi que tinha muita resistência e desde então não parei mais, buscando a cada dia aperfeiçoar minha forma de correr. Coloquei como meta ultrapassar os 200km correndo antes de completar 3 anos de corrida, que só completo em abril de 2016, então, meta cumprida antes do tempo...

Pensei em fazer uma prova de 48h, mais ficar girando no asfalto não é comigo. Fiz duas ultras de 81km na praia e uma ultra de 89km em montanha com 6.600 metros de desnível. Surge então a Cassino Ultra Race. A maior e sem dúvida nenhuma, a mais difícil ultra maratona de praia do mundo - 230km de muita dificuldade.


Fui o 10º a fazer a pré inscrição e foi aí que começou o primeiro desafio, correr atrás de dinheiro para pagar as despesas que vinham com ela (viagem, hotel, equipamentos), mas como diz o ditado, quem tem amigo, tem tudo e com a ajuda dos amigos da Cia dos Cavalos e Corredores de Ultra Montanha ( amigos do Betinho) consegui o dinheiro da inscrição, então o que me restava era fazer a minha parte e retribuir fazendo o meu melhor, treinar e correr muuuito!

Confiando no trabalho de assessoria do meu treinador Gabriel Picarelli (da Cia dos Cavalos), durante um ano segui uma planilha de treino duríssima, testando um novo método de treino que ele ainda não tinha utilizado, chegando a 550Km por mês com quase 10 mil de desnível positivo, sempre respeitado as horas de sono, sem suplementação, só na alimentação balanceada.


Quanto mais se aproximava a data da prova mais eu sonhava com ela torcendo para que fosse muito difícil, pois eu queria colocar em prova tudo o que aprendi durante esse um ano de treinamento: dedicação, humildade, disciplina, planejamento, foco, determinação, motivação, garra e persistência. E tudo acabou saindo perfeito, a natureza colaborou com meu desejo e veio a chuva, o frio, vento forte e calor tudo junto em 38h de trajeto.

Os treinos de final de semana nas montanhas com os amigos da Cia dos Cavalos e Glória Ultra Runners com aquele espírito de equipe unida sempre no mesmo pensamento: aqui ninguém vence sozinho e juntos somos muito mais fortes, fizeram toda a diferença na minha preparação. Isso me ajudou a manter o equilíbrio entre a mente e o coração, fator importantíssimo que nos ajuda a raciocinar em momentos de debilitações como o frio, sede, sono, dor, ... serei eternamente grato a vocês amigos.


Na noite que antecedeu a prova dormi apenas 3 horas, estava muito ansioso. Na largada da prova preferi ficar os primeiros 10km ao lado do ultra Wilson, que estava vindo de uma prova onde fez 100km, 5 dias antes, sendo assim, com certeza ele não ia queimar sua largada, então fiz um aquecimento de uma hora e alguns minutos ao seu lado. Foi quando parei para tirar a blusa térmica, passei protetor solar e voltei a correr. Quando percebi que a máquina já estava aquecida, troquei de marcha, entrei em um ritmo mais forte aproveitando que o vento estava fraco e corri por alguns quilômetros ao lado do amigo Marcos Rosa, um verdadeiro guerreiro. Um tempo depois senti que era hora de ir um pouco mais devagar, foi quando encontrei o Ultra Danilo, que estava sem água, dividi minha água com ele e o informei que já estávamos perto da próxima base.

Primeira base de apoio 54km depois e aí estou eu. Comi um delicioso carreteiro de quartel, hidratei e reabasteci a água. Na continuação fui informado que estava em 4º lugar, coração bateu forte. Segunda base, completando 89 Km. Comi hidratei e reabasteci a mochila com alguns itens que deixei no drop bags e vamos adiante, rumo a 3ª base.


Nordeste soprando cada vez mais forte, raios ao longe, temperatura começando a cair e a noite chegou, hora de se agasalhar. A primeira noite da prova tornou a utramaratona há mais difícil do mundo, para alguns competidores, ficando acima até mesmo da competição no deserto do Saara. O ciclone que assolou a noite, trazendo chuva forte, muitos raios e rajadas de ventos chegando a 180 Km/h, entre os pontos de apoio no trajeto do Farol do Albardão, foi extremamente difícil, muitos atletas chegaram ao nível de exaustão, com hipotermia e cansaço, acabando por abandonar a prova. Até as 3 horas da madrugada equipes de apoio terrestres e ambulâncias tiveram que socorrer a maioria dos atletas que foram abrigados em bases de apoio montadas pelo exército, onde foram prestados os cuidados médicos necessários. Depois de tomar muita chuva e passar muito frio eu, o Danilo e os “cachorros ultras”, chegamos na base 3.

3ª base 132 Km. Comi carreteiro com atum, frutas e dormi por 2 horas esperando o ciclone passar. Acordei com o Paulo chamando o pessoal com aquele sotaque de Portugal: ora pois pois a barraca está a voar, vocês tem que levantar e segurar a barraca para ela não voar... . Após 20min de muito vento fomos avaliar a situação que estava um pouco mais tranqüila.


Tomei bastante café, comi um pouco e parti rumo a última base com um grupo de 5 ultras correndo contra o vento de uns 100k/h. Logo esse grupo se dispersou, foi quando larguei em um ritmo mais forte junto com o Ultra Ariovaldo, hora de fazer muita força, vento contra, tempestade de areia (nosso Saara dos pampas) em um lugar totalmente inóspito. Ali não tinha lugar para fingimento, somente os brutos sobreviveriam! A última base não chegava nunca, mas eu me sentia muito bem, estava muito feliz, vendo aquilo que sonhei durante meses se realizar, exatamente como eu tinha sonhado.

Dos 71 atletas que largaram na quinta feira pela manhã, chegamos na sexta a tarde apenas com 20 competidores. Chegando na 4ª base - 177Km percorridos. Comi bastante aquela deliciosa massa com carne que me aguardava, hidratei, reabasteci a mochila e tomei o rumo da chegada. A última parte do trajeto não podia ter sido melhor, sem vento e com uma chuvinha para refrescar, logo avistamos a primeira colocada.

Chegamos na ultra Andréia, que enfrentou a tormenta sozinha (muito guerreira, parabéns!) que nos informou que estávamos em 3º e 4º, quando achávamos que estávamos em 4* e 5*, e que o segundo estava logo a frente. Mais uma vez, contagiado com muita felicidade, falei para Ariovaldo que agora estava indo para morte tentar buscar o 2º colocado e de um firme trote, passei para um forte galope e em seguida encontrei o Petter que confirmou minha posição 3º lugar.

Já enxergando o barco Altair mantive a velocidade, muito emocionado e feliz com meu desempenho, agradecendo a tudo e a todos. Estava sem uma gota de água e com a garganta seca, faltando uns 5 km para o final nos moles da barra o Ariovaldo encostou, então, nos últimos 4km de prova acelerei e fiz uma chegada que mais parecia uma chegada de uma prova de 10 km de tão feliz que estava me sentindo.


Cruzei a linha de chegada voando, abracei a Sandra e desabei no chão perdendo o controle das pernas numa mistura de felicidade, emoção e cansaço, quase não há como descrever, vendo um sonho se realizar exatamente como eu sonhei, conquistando o primeiro pódio no geral - 3º lugar – sentindo na pele que valeu cada segundo das 16 horas semanais de treinos, cada centímetro dos 150km e cada metro dos 4 mil metros de subidas acumuladas durante a semana.

Agradecer ao Espartago por todo o apoio e motivação, a todos os amigos da Cia dos Cavalos, aos treinadores Cleimar Rodrigo Tomazelli e Grabriel Picarelli e a todos os amigos do Glória Ultra Runners. Se não fossem vocês eu não teria conseguido chegar onde cheguei. Muito obrigado pela força e por acreditarem em mim. Toda essa energia é que me faz ir em busca dos meus limites físico e mental. Espero poder ter retribuído a altura todo esse apoio.

E não poderia deixar de agradecer aos ULTRAS que se desafiaram ao desbravar esses 230km da maior praia do mundo. Todos que cruzaram a linha de largada são guerreiros e sempre que precisarem de algo podem contar comigo, seja com um gole de água, uma rapadura, um pinole ou até mesmo com uma palavra de força. Porque aqui ninguém vence sozinho e juntos somos muito mais fortes!


Gostaria de agradecer a Prefeitura de Santa Vitória do Palmar que ofereceu um almoço a todos os participantes e autoridades, além do transporte dos atletas de Porto Alegre até o Chuí e de Rio Grande até Porto Alegre. Agradecer ao prefeito de Santa Vitória do Palmar, Eduardo Morrone e do prefeito do Chuí Renato Martins, além do secretário da SECTUR/SVP Neri entre outras autoridades e público.

Não poderia deixar de citar o Petter Botelho da prefeitura de Rio Grande, que fez um trabalho espetacular, se dedicando de corpo e alma para fazer a CUR ser um sucesso!

Agradecer a Organização da prova, Maria Vargas (nutróloga), Sandra Costa (diretora na empresa Horizontes Portugal) e Paulo Alexandre que organiza a PT 281, que também se dedicaram de corpo e alma para CUR ser um sucesso, como de fato foi!

MUITO OBRIGADO!


E vai treinar que está todo mundo treinando, bruto demaaaaissss ! #NQSF

PT281 2016 aí vou eu, perna eu tenho, falta o patrocínio com as passagens e hospedagem, também aceito apoio de um(a) fisioterapeuta, para reconstruir a carcaça!


 
 
 

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