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RETROSPECTIVA 2015 - ANA GORINI DA VEIGA

  • Ana Gorini da Veiga
  • 14 de dez. de 2015
  • 7 min de leitura

2015, o ano das descobertas


Meu 2015 começou bem. Dia 2 cheguei na Patagônia, sozinha, de mochilão e tênis no pé. Em três semanas conheci lugares deslumbrantes – El Calafate, El Chalten, Torres del Paine e Ushuaia. Corri e percorri muitos quilômetros percorridos em trilhas e estradas; teve um dia que corri 30km em El Chalten e dois dias depois corri 43km em Torres Del Paine. Aliás, só nos 4 dias em Torres del Paine totalizei quase 80km, grande parte correndo com mochilão nas costas. Depois foram 4 dias (e mais uns 55km no Ushuaia), sem contar as corridas na beira do Lago Argentino no Calafate.


Sozinha, no meio das montanhas, uma imensidão cujo silêncio só era quebrado pela melodia do vento, passava dias sem ouvir sequer minha própria voz. Descobri uma paz interior indescritível. Da Patagônia fiz uma rápida escala em Porto Alegre e fui pra Barbados, fechando minhas férias com muito surf (pego onda de bodyboard há 30 anos), snorkeling e, é claro, corridas. Passei uma semana sozinha, num ritmo em que o pé de pato brigava com o tênis pra ver quem tinha preferência; eis que os dois dançaram um belo tango. Descobri que ainda tenho muita energia sobrando. Na volta das férias, durante uma reunião com um aluno que havia retornado do Doutorado sanduíche no laboratório de um colaborador que tenho em New York, resolvi que era hora de eu sair da rotina acadêmica do Brasil e focar mais na pesquisa.


Foi assim, de uma hora pra outra, em questão de segundos, que decidi que iria pra New York. Comecei a preparar a papelada, projeto, pedido de bolsa, documentos... ficar 1 ano fora significa trabalhar em dobro no semestre anterior e no semestre posterior à viagem, então sabia que meu ano seria duro. Dei muitas aulas, me atolei de trabalho, e descobri que cada vez gosto mais do que faço. Foi na Patagônia que pensei em correr os 53km do Desafrio Urubici.


Comentei com o Rodrigo Tomazelli, o que bastou para que ele me inscrevesse não só para os 53km do Desafrio, mas também para os 42km do Indomit Vila do Farol. Era melhor eu começar a treinar. Fora a aventura na Patagônia, eu nunca tinha treinado em morros, pois não gostava de sobe-e-desce. Aliás, sofri demais nas poucas provas de montanha que me meti a fazer. Eu sabia que a Claudia Patrício e a Ângela Sturzbecher treinavam nos morros, mas elas estavam lesionadas. Então falei com o André Batista e ele se prontificou a me incluir nos treinos da galera. E lá fui eu correr nos morros da Gloria, Ferrabraz, Morungava, Tapera... Descobri que gosto. Aos poucos, fui conhecendo a turma: Betinho Lewis, Daniel Gohl, Cristiano Fetter Antunes, Urbano Surreaux, Mauricio Pinto Gomes, Mauricio Pinzkoski, Rafael Grossi, Juliano Machado, Felipe Camargo, Felipe Aranha, Paulinha Stein, Raïssa Zortea. Não conseguia ir em todos os treinos, pois no primeiro semestre dei aulas sábados, mas, nos poucos que fui, descobri novos amigos.


A primeira prova de 2015 foi a Volta do Lago Negro em Gramado. Fiquei na casa do David Johnston, meu amigão do peito. Fomos eu, Rodrigo, Babi, David e Gersinho. Prova bem legal, fiquei em 1º lugar nos 15km (1h05min47min de sobe-e-desce). Veio a Volta à Ilha. Em 2014 havíamos ganho na equipe feminina. Neste ano tínhamos de tudo para ganhar. Eis que, na véspera da prova, ficamos sabendo (já em Floripa) que duas pessoas haviam “dado para trás” na última hora – justamente as duas cujas despesas estavam sendo bancadas pelo Rodrigo, sendo que uma havia pedido muito pra correr na nossa equipe.




Descobri que não dá pra confiar em todo mundo. Resumidamente: éramos 6 mulheres pra correr contra equipes com 8 + 1 (reserva). As gurias já estavam desistindo, dizendo que seria impossível, pois não tínhamos nem reserva. Eu olhei pra Rovana Lampert e disse que nem que eu e ela fizéssemos em dupla, a gente estava ali pra correr e completaria a prova. Sacudimos os ânimos do resto da equipe e, no dia seguinte, todos conheceram a nossa garra: eu, Tati Pedralli, Vanessa Salgueiro, Gracieli Kronbauer, Rovana Lampert e Carina Zortea matamos no peito e terminamos em 12º lugar. Eu a Rovana completamos mais de 40km cada uma, e todas as demais foram muito guerreiras. Para nós, valeu mais do que um 1º lugar. Descobrimos que era possível.


Final de abril tinha o Circuito de Corridas CORPA, que saía da 7 de Setembro, na Praça Brigadeiro Sampaio no Centro. Desde 2012 não fazia uma prova de 10km, então era o momento de me testar. Fiz os 10km em 40min35s, ficando em 1º lugar. Descobri que não estava tão mal assim nas provas rápidas.



No feriado de 1º de maio resolvi conhecer Foz do Iguaçu. Novamente mochilão, hostel e tênis no pé. Cheguei na madrugada de quinta pra sexta. Sexta-feira peguei um bus e conheci todo o lado argentino do parque correndo, fechando mais de 13km dentro do parque e mais 10km na estrada, sendo então resgatada pelo bus pra entrar de volta no Brasil. No sábado fui correndo do hostel até o lado brasileiro do parque, fazendo mais 20km. Domingo chuvoso foi dia de descansar e conhecer Itaipu. Descobri que Foz do Iguaçu é muito mais deslumbrante do que eu imaginava. Veio a 4ª edição da meia-maratona Wine Run Vale dos Vinhedos. Fui tetracampeã, abastecendo mais um pouco minha adega.


Em seguida foi o meu aniversário, 3 de junho. Ao contrário dos outros anos, que sempre organizo uma festa, este ano resolvi passar sozinha no meu paraíso, Morro dos Conventos. O dia seguinte seria feriado de Corpus Christi, então chutei o balde e fui pra praia no dia 2 de noite. Acordei dia 3 cedo e fui correr por um trajeto que havia descoberto no verão. Fiz 27km. Dois dias depois dirigi até Morro Grande, no pé da serra do Realengo, e corri no meio do mato, desbravando umas trilhas, passando dentro de rio, num total de 15km. Descobri que passar aniversário sozinha também pode ser muito legal.


À medida que junho se aproximava, eu me arrependia cada vez mais de ter dito pro Rodrigo Tomazelli que queria correr o Desafrio. Era uma insanidade correr 53km. Os treinos de 20km na Gloria levavam mais de 2h e eu acabava sempre morta de cansaço. Mas não tinha mais volta. Jamais deixo de fazer algo com o qual me comprometi. Faltando três semanas pra prova, estava saindo pra fazer meu último treino nos morros de Porto Alegre, quando recebo uma mensagem do Rodrigo pedindo para eu fazer uma dupla na maratona de Porto Alegre, que seria no dia seguinte. Dois dias antes (na quinta à noite) eu tinha corrido 19km a 4:20/km. Disse pra ele que não dava, estava cansada e tinha que focar em Urubici. Ele insistiu, dizendo que era só completar, sem pressão e... quando vi, lá estava eu no domingo, correndo em dupla com o Gabriel Picarelli. Ele fechou a primeira metade em 1h19min, e eu em 1h27min21s. Descobri que convite de véspera também vale à pena e pode render um primeiro lugar no pódio.



...E chegou o Desafrio! Frio mesmo, só na minha barriga. Como em toda prova longa, minha meta era conseguir terminar; não ponho expectativas, pois como tudo na vida, expectativa é o primeiro passo para a desilusão e decepção. Ainda assim, a pressão era grande, com muita gente falando ou mandando mensagens “Aninha sub-5” (o recorde feminino era de 5h03min). A corrida foi maravilhosa, e apesar de ter caminhado praticamente toda a subida, terminei a prova em 4h33min, ficando em 2º lugar feminino. Descobri que meus amigos me conhecem melhor do que eu! Férias de julho, fui novamente pra Santa Catarina. Passei uns dias no Rosa, correndo muito pelos morros, pois ainda viria o Indomit em agosto...


De lá, fui pra Balneário Camboriú; saí pra correr de manhã cedo e vi uma estrutura toda montada para a Meia-Maratona de Aniversário de Balneário Camboriú. Resolvi me inscrever na hora e ganhei a prova, com 1h29min num trajeto bem sinuoso e com a subida do Morro da Rainha no final. Descobri que prova em cima da hora também vale.




A prova mais casca estava por vir. Indomit Vila do Farol. Larguei lépida e faceira, pois já conhecia a primeira metade da prova. Não dosei no começo e paguei caro no final. Fechei a primeira metade em 1h53min, e antes do quilômetro 22 comecei a sentir. A segunda metade foi duríssima, chegando a fazer 14,5min/km em alguns trechos. Ainda assim, venci a prova, com 4h25min. Descobri dores e cansaço que jamais havia sentido antes.


Duas semanas depois embarquei pra New York. Já conhecia a cidade, mas jamais esquecerei a emoção que senti quando o avião começou a descer. Eu estava chegando para viver sozinha nesta cidade, sem conhecer ninguém, sem nenhuma referência. O apartamento que aluguei tinha fogão e geladeira. E só. Começar tudo do zero, com uma mala e muita, mas muita vontade. Descobri que a vida estava apenas começando. Não tinha conseguido inscrição pra Maratona, então havia me inscrito para a Grete’s Great Gallop Half Marathon, que seria em outubro. Mas ainda em setembro, num sábado, vi que no domingo teria a Fifth Avenue Mile, a principal prova de 1 milha de rua que tem aqui. Consegui me inscrever e corri, fechando com o tempo de 5min53s. Quase morri. Fiquei em 13º da faixa etária 35-39, entre 451 (146 geral feminino, entre 2881 mulheres). Descobri que prova curta não é pra mim.


Na Grete’s Great Gallop fiquei em 5º lugar na faixa etária (de 329), 28º lugar feminino (de 2128 mulheres), com o tempo de 1h27min58s, num trajeto cheio de sobe-e-desce que é o Central Park. Descobri que as americanas correm muuuuuito. Eis então que consigo uma inscrição pra Maratona de New York. A major das majors. Recebi a confirmação dia 15 de outubro, e a prova era dia 1º de novembro. Corri. 2h59min24s. 3º da faixa etária. Primeira brasileira amadora da história da Maratona de New York. Descobri que sonhar acordado é mais divertido!!


Agora, fechando 2015, descobri o amor.



 
 
 

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