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DIÁRIO DE UMA EX-GORDA - SOU ULTRA! - RETROSPECTIVA 2015

  • Rosane Schotgues Levenfus
  • 21 de dez. de 2015
  • 4 min de leitura

Ser ULTRA foi a coisa mais doida que já me aconteceu. E doída também.


Eu nunca fui uma criança quietinha, logo, levei o espírito aventureiro para a vida adulta. Eu sei que algumas amigas nascidas nos anos 60 buscam a paz interior de forma mais calminha.

Não vou dizer que ficaria tricotando. Podia passear com cachorrinhos nas pracinhas e essa ser a grande atividade física. Mas, convenhamos, sem um pico de adrenalina não acho muita graça. Então eu vinha fazendo de tudo um pouco, menos correr, porque para correr, me achava velha.



Acontece que a agitação não é só corporal. Mente sã, corpo são... então, corpo agitado, mente criativa. E toda vez que saí para caminhar andei fantasiando coisas. Até que me disseram que os velhos também corriam atrás da caça, na Europa Paleolítica e, na aventura de emagrecer, passei a correr caraminholando. Foi aí que me tornei ULTRA mesmo!


As aventuras de 2015 começaram com a Travessia Torres Tramandai, em janeiro. Eu amargava uma fascite plantar interminável, daquelas de não conseguir encostar o calcanhar direito no chão. Estava terminantemente proibida de correr e abaixo de fisioterapia, usando palmilha especial de dia e dormindo com bota ortopédica. Era inimaginável ficar parada. No grande dia, o vento soprava forte e a favor, jogando os atletas na direção certa. Mas fui na contramão, comendo areia, fazendo força demais... Eu simplesmente me tornara ULTRA e fazia a corrida de 250km pelo deserto do Saara.



Virei bicicleta de apoio! E como os atletas estavam mais velozes do que o esperado, em função da ventania, alguns desencontros aconteciam no revezamento de diferentes equipes. Então me pediam para ir à contramão para ver se fulano ou beltrano vinha chegando. Assim, pedalei quilômetros contra e a favor, diversas vezes. Minha T.T.T. foi Tire(pneu) Também Trabalha.


Cuidei demais para recuperar a fascite e mantive a forma pedalando 300km em fevereiro. Assim, garanti minha participação na Maratona de Santiago do Chile! É claro que eu não corri a Maratona. Nem meia maratona. Estava inscrita para o meu Record mundial pessoal, 10km.



Foi ai que minha recuperação às pressas mostrou que eu não podia largar tão às pressas e cobrou seu preço no quilômetro final, no qual eu tive que parar duas vezes para alongar uma perna e seguir correndo-capengando dando socos no músculo para me obedecer. Mas foi incrível estar junto a 20 mil corredores e avançar por um trajeto cheio de atrações e uma multidão de expectadores permanentemente torcendo.

Quando você vê que existe mesmo esse cenário que só conhecia pela TV, percebe o quanto é estimulante ter incentivo ao redor. Na falta dele, uso minha imaginação e, nas provas que se sucederam ao longo do ano, agito minha torcida interna. É ela que grita:



E quando isso acontece, não importa o tamanho da corrida, nem a velocidade, você sente que está fazendo o seu melhor e que você é ULTRA.


Eu não corro com fones de ouvido. Corro com aparelhos auditivos. Usar uma viseira ajuda a prevenir que eles molhem com o suor que escorre do rosto. Não podem molhar de jeito nenhum. São computadores muito sofisticados. Eu posso correr sem eles. Gosto do silêncio. Mas o equilíbrio fica um pouco comprometido.


Porque falei nisso? Porque o silêncio é tudo. Permite ouvir a respiração dos outros. E a sua. A pisada surda do batalhão de tênis contra o asfalto. Mas acima de tudo, permite pensar. E ouvir a música que combinar com aquele trecho que você está passando.


Por exemplo, quando avisto um fotógrafo, cuido para fazer bonito. Mesmo assim, é preciso encontrar uma foto no palheiro das inúmeras caretas de sofrimento que todos fazem no percurso. Nessas horas, nada ajuda mais do que correr na praia naquela cena impagável de Carruagens de fogo. Foi assim que consegui essa foto! Todo mundo se arrastando e eu lá, com jeito de ULTRA!



Eu vinha correndo bem nos últimos tempos, bem adaptada a palmilhas que corrigiram minha pisada e a um suplemento que necessito. Até que ele sumiu do mercado. E eu quebrei lá por Novembro. E de lá para cá vim treinando com muito esforço, alternando dias melhores com outros doloridos, mesmo depois de reaver o suplemento.


Minha última prova desse ano aconteceu agorinha, no dia 20/12 – 5km da Corrida das Estações – Verão, e eu não sabia se uma contratura muscular na coxa esquerda me permitiria dar a largada, já que eu estava há 10 dias sem conseguir treinar de tanta dor. Mas deu! E me senti ULTRA!


Quando você tem limitações de saúde (sou celíaca e intolerante a laticínios – não apenas a lactose), certa idade com histórico de sobrepeso arruinando suas articulações, qualquer quilômetro que conseguir correr fará de você um ULTRA. No meu caso, um mix de ULTRA teimosa, ULTRA pilhada, ULTRA focada, ULTRA esforçada, ULTRApassada também!


Sou ultrapassada em todas as corridas!! Meu pódio é minha moral que fica ULTRA elevada cada vez que mantenho e atinjo minhas metas. Nesse final de ano, desejo um grande 2016 para você! Que você ULTRApasse todas as suas dificuldades. E, seja lá qual for sua meta, planeje-a do seu tamanho. Com carinho. Abrace-a com vontade.


Sentir-se ULTRA não é para qualquer um. É para quem vibra com qualquer vitória.






Rosane Schotgues Levenfus é Mestre em Psicologia Clínica e Especialista em Neuropsicologia. Corredora há três anos, a psicologa é autora do livro Diário de uma ex-gorda e escreve crônicas motivacionais aliando corrida e força de vontade no Correr é Fácil.



 
 
 

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