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ESPECIAL TTT 2016 - LANES OSÓRIO

  • Lanes Osório
  • 31 de jan. de 2016
  • 5 min de leitura

Escrever sobre os poucos mais de 81km que compõem a TTT é tão difícil quanto correr a prova.



A decisão de ir solo partiu logo após ter feito a minha segunda edição, de 2015, no revezamento em dupla (também fiz dupla em 2014). Mesmo começando a correr no final de 2013 nunca imaginei que, em tão pouco tempo, iria realizar o desafio de desbravar o litoral de Torres à Tramandaí (Imbé, para ser mais preciso). Após uma conversa com meu treinador, Daniel Fortes (Veloz Assessoria Esportiva) decidimos que era um desafio possível de acontecer, mas que exigiria muita dedicação da minha parte.


Os treinamentos iniciaram logo após a Mizuno Uphill Marathon, em agosto, e desde então foi sendo feito um trabalho de base para a prova, porém no final do ano, algumas questões pessoais, acabaram interferindo diretamente na realização de alguns treinos. Mesmo assim mantive o desafio em aberto e havia prometido para o meu filho, João Pedro, que faria essa prova para ele e que ele seria o meu mantra durante os 81km.


Sou uma pessoa tranquila, não costumo ficar ansioso em véspera de prova, mas a única questão que realmente me deixava tenso nas duas semanas que antecederam a prova era o clima e como estaria o tempo na prova (fato de extrema importância para o cumprimento do objetivo).


Na semana que antecedeu a prova recebo do meu treinador todo o planejamento para a TTT (tão importante quanto o treinamento para ela). Nos últimos dias pré-prova serviram para colocar em prática tudo aquilo que era necessário para o grande dia.



Na sexta à noite fiz a montagem de toda a suplementação e alimentação para a prova, dividida por todos os postos de troca e que estariam a disposição na tenda da Veloz. Kits montados foi a hora da reunião técnica e motivacional com o treinador Eduardo Campelo, 2º colocado geral na edição do ano passado. Eu e todos os outros atletas do solo da Veloz recebemos as orientações finais para a prova e ficou bem claro que não apenas ter treinado, mas ter a mente forte seria fundamental para o sucesso da empreitada.


Na madrugada de sábado, 3h30, foi a hora de acordar, tomar o café e dirigir-se para Torres, local de largada às 6h da manhã. Estava tranquilo e ao chegar lá foi a hora de aguardar o grande momento e encontrar grandes amigos que estariam ali pelo mesmo objetivo.


Às 6h foi dada a largada, com uma estratégia bem conservadora, estava me sentindo muito bem e mesmo assim mantive o mesmo ritmo até a entrada na beira-mar, por volta do km 3. Ainda estava noite e a praia estava linda. Os primeiros 40km mantive um ritmo sem muita variação, fechando em torno de 4h. No posto de troca por volta do km 48 (não lembro exatamente) comecei a sentir uma assadura muito forte na virilha (saindo inclusive um pouco de sangue), mesmo tendo passado vaselina constantemente durante toda a prova e passou a incomodar um pouco.


Já em Capão da Canoa, próximo ao km 55 comecei a sentir a perna um pouco mais pesada e em alguns momentos alternava uma caminhada (100m) e 900m de corrida. Em função do vento estar relativamente a favor a sensação de calor é maior, porque não refresca, e mesmo o dia não estando aberto e com muitas nuvens já começou a ficar muito quente.


Ao chegar na plataforma de Atlântida, por volta do KM60 foi hora de sentar um pouco, passar um pouco de gelo nas pernas e realizar uma alimentação um pouco melhor (já estava com muita fome à essa hora).


Fiquei ali em torno de 5 minutos e ali, mesmo com essas adversidades, tinha certeza que iria completar os 22 km restantes. O recomeço foi difícil, adutores e quadríceps travaram e pelo primeiro KM após a plataforma não conseguia nem fazer um trote leve. Passei então à fazer uma caminhada um pouco mais vigorosa e logo em seguida já consegui começar a correr novamente.


No KM65 foi o momento mais difícil da prova, a virilha já estava praticamente em carne viva e caminhar já era dolorido demais, passei então a alterar 300m de caminhada e 700m de corrida até o próximo posto.


Quando passei pelo penúltimo posto nem trotar mais eu conseguia e já caminhava com um pouco de dificuldade mas faltavam apenas 16 km e depois de tudo que havia passado, não era momento de desistir.


Os últimos 16km foram muito difíceis, a dor física beirava o insuportável, mas a cabeça estava tão forte que não pensei em desistir em nenhum momento. A frase “a dor é passageira, o desistir é para sempre” nunca fez tanto sentido. Eu tinha certeza que iria terminar, mesmo que caminhando esse desafio.

Quando comecei a avistar os prédios de Tramandaí lágrimas começaram a descer o meu rosto e todos os momentos que não pude estar com meu filho vieram nos meus pensamentos e era por ele que eu iria terminar a prova.


Faltando pouco menos de 1km lá estava meu treinador Eduardo me esperando e o cara é mestre em trazer à tona o melhor de cada um no momento mais difícil e consegui tirar forças de não sei onde para virar perna e um trote muito desajeitado para o pórtico de Chegada.


Poucos metros antes e após cruzar a linha de chegada era impossível segurar o choro, e com pouco mais de 10h e 35 minutos eu havia completado a Travessia Torres Tramandaí.


Pensando racionalmente eu tive certeza que não era hora de eu ter feito solo, eu não estava pronto fisicamente para um desafio tão grande. Minha sugestão para quem pretende um dia se aventurar numa prova dessas é que passe por todas as etapas e distâncias da melhor forma possível.


Meu primeiro pensamento foi “nunca mais faço solo”, “é uma insanidade, uma loucura” mas agora, um pouco mais calmo e depois de ter refletido muito sobre tudo o que aconteceu não descarto corrê-la novamente, dessa vez melhor preparado para completar ela num tempo melhor e correndo um pouco mais.


Meu melhor acerto nessa prova foi ter seguido a orientação dos meus treinadores e ter feito toda a suplementação durante todos os postos de troca (água de coco, bcaa, carbos simples e complexos etc). Em nenhum momento me senti fraco e desidratado. Meu maior erro foi ter escolhido calção ao invés da bermuda de compressão para ter feito a prova.


A TTT 2016 foi com certeza a prova mais difícil que eu já fiz (e olha que a Uphill 2014 com o temporal foi insana) e digo novamente para quem sonha em fazê-la e até mesmo para quem pensa em desbravar o nosso litoral novamente: pensem muito antes e conversem muito com seus treinadores.


Agradeço de coração a orientação e treinamento dos professores Daniel Fortes e Eduardo Campelo.

Agradeço também a minha família, meus amigos corredores e não corredores pela atenção, amizade e confiança.


E que venham os novos desafios ...


 
 
 

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