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ESPECIAL TTT 2016 - DAVIDE POLI

  • Davide Poli
  • 6 de fev. de 2016
  • 4 min de leitura

Tocou meu despertador, era 4:30 da manhã de uma terça feira de janeiro, mal abri os olhos e aquele pensamento insistente já ecoava na minha cabeça: “Você vai mesmo levantar para correr? Ainda está escuro lá fora. E parece que vai chover!” Quase cedi. Mas não! Rapidamente levantei da cama e fui correr. Era um treino de 25km. Na tarde anterior eu havia feito o treino de musculação, e no final de semana já tinha corrido 45km, mais 20km. Estava cansado, mas estava seguindo a planilha de treino elaborada pelo meu treinador Eduardo Schutz, então estava seguro. E falei para mim mesmo: EU VOU CONSEGUIR!


Esta rotina de treinos, que muito parecida com aquela que lia nos relatos de ultramaratonistas, passou a ser também a minha. Jamais pensei que me tornaria um deles quando comecei a correr, há pouco mais de um ano.


Mas bem, eu deveria imaginar, afinal sempre ouvi dos corredores mais experientes que a corrida viciava. E posso dizer que eles tinham razão.


Corri minha primeira meia maratona em fevereiro de 2015, e até o mês de agosto completei mais 4, até que 21Km começou a ser uma distância curta que já não satisfazia aquela vontade de todo corredor de querer correr mais e mais longe. Então corri para os 42,195 km.


E foi logo após a primeira maratona que essa vontade de auto superação, me fez decidir encarar o desafio dos 82km da Travesseia Torres Tramandaí, em 2016.




Os meses seguintes a esta decisão foram suados, cansativos. Diversas vezes aquele pensamento de dúvida tomava minha cabeça, mas resisti, e repetia a mim mesmo a frase que seria meu mantra naquele tão esperado 30 de janeiro de 2016: eu vou conseguir.


E quando o dia da prova chegou eu estava preparado, havia cumprido minha planilha de treinos e sabia que naquele momento eu só tinha uma coisa a fazer: CORRER.


As 6:00h, eu e mais outros 100 atletas estávamos a postos no pórtico de largada em Torres, quando aquela sirene anunciou nossa partida (e quem corre sabe o afeito que daquele som tem sobre o nosso sistema nervoso). Saí em um ritmo lento, lembrando das palavras do meu treinador, que dizia que muitos passariam por mim, mas que eu ainda teria muitos quilômetros para alcançar muitos deles. Então segui o plano.


E logo após o 2º posto de passagem (ou posto de troca para o revezamento), percebi que muitos daqueles que eu havia visto sumir na minha frente, estavam ficando para trás, me deixando a sensação de que eu estava certo seguindo o meu ritmo.


Os primeiros 30 quilômetros passaram voando (digo, correndo) e nesse momento já não me preocupava mais com a minha colocação na prova, não podia mais gastar energia com isso, pois os primeiros sinais de cansaço começavam a aparecer, e eu tinha que ocupar minha mente com outros assuntos. Comecei a curtir a paisagem e pensar na minha família, na Itália, na minha filha, nos meus amigos... (corridas longas são boas oportunidades de se ficar sozinho consigo mesmo). Mas logo que o 55º km chegou, o controle dos meus pensamentos deixou de ser meu, as dores e o cansaço traziam de volta aquela ideia de desistir, de parar, tirar o tênis e dar um mergulho no mar. Mas não! Eu não iria ceder, não agora. Desde o primeiro dia eu soube que este seria o maior dos desafios, convencer a minha cabeça de que as minhas pernas podiam. Segui na luta.


As dores seguiam, e eu buscava na lembrança aqueles meses de treinamento, as madrugadas escuras de chuva em que corri sozinho na pista do Parque da Redenção, os finais de semana que optei pelo treino ao invés da festa com meus amigos e minha namorada. O que eu diria àqueles que estavam acreditando em mim? O que eu diria a mim mesmo depois que aquela sensação de cansaço acabasse? Eu não podia parar. Não podia mergulhar na areia, nem no mar, eu tinha que chegar. E mais uma vez repeti o meu “grito de guerra”: Eu vou conseguir.




E assim eu fui até o km 70, quando ao olhar para o relógio e iniciei a contagem regressiva. Uma contagem longa, 11 km pareceram os 70 que eu já havia corrido. Até que avistei os balões e o pórtico da chegada, as dores desapareceram e a força voltou, meu rosto cansado deu lugar à um sorriso, e aquela alegria me fez correr mais rápido.

E ao final, ao passar pelo pórtico e receber o abraço do meu treinador (que estava lá esperando), a emoção tomou conta de mim, e um uma mistura de sentimentos paradoxais fez as lágrimas rolarem.


Terminei a prova em 9h e 9min, e aquela satisfação de cruzar a linha de chegada ainda me emocionada. Não se esquece esse tipo de sentimento tão rápido. Ouso dizer que seja ele que torne a corrida viciante.


Com o desafio vencido, digo que eu mudei, como a minha frase de ordem, corremos, passamos no tempo, agora sou ultramaratonista e posso dizer EU CONSEGUI!


Contudo, não posso deixar de agradecer as pessoas que fizeram parte dessa minha vitória pessoal: meu treinador Eduardo Schutz que sempre acreditou em mim e me preparou com excelência para o desafio; ao meu apoio Paulo de Tarso Motta que pedalou os 82km ao meu lado; à minha família e minha namorada Roberta e que compreendeu a rotina de treinos e me incentivou a seguir em frente; e também a equipe Perfect Run que sempre acreditou que era possível e estava lá aplaudindo minha chegada. A vocês, muito obrigado.

ASSISTA A REPORTAGEM SOBRE A TTT 2016



 
 
 

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