ESPECIAL TRC CORUPÁ - LUCIANE KOHLMANN E TOMAZ PANIZ
- Luciane Kohlmann e Tomaz Paniz
- 29 de fev. de 2016
- 3 min de leitura
A largada estava marcada para 8h10, e nós, meio atrasados, chegamos ao local às 7h40. Pouco tempo para checar os equipamentos obrigatórios, alongar e se concentrar. De longe, dava pra ver o morro que iríamos enfrentar em seguida. Era a etapa da TRC de Corupá, no interior de Santa Catarina. Pelo pouco que eu sabia, era uma prova casca grossa, muito difícil. O desafio era correr 25km (inicialmente eram 23km, mas a organização aumentou o percurso) em 5h. Não parecia impossível.

Eu e meu marido - Tomaz Paniz - treinamos e nos preparamos. Isso dá uma certa segurança. Você só precisa fazer aquilo que você sabe fazer. Para o Tomaz, tudo é mais fácil. Ele tem muito mais condicionamento e resistência, porque faz trekking e escaladas há muitos anos. Já eu corro há apenas 8 ou 9 meses (e apenas desde janeiro com orientação de assessoria).

Correr em trilha, em meio à natureza, virou a nossa paixão. Desde que conhecemos a modalidade, começamos a querer mais e mais. Depois de fazer etapas da XTerra e da Indomit em 2015, decidimos voar mais alto. Nos inscrevemos em 3 provas no primeiro semestre de 2016. E o primeiro desafio era a TRC de Corupá. Para os atletas que correm há anos, os tais 23km talvez sejam pouco. Para nós, que somos novatos, era uma prova assustadora. E não estávamos errados.
As 8h10, lá estávamos nós correndo em meio à cidade. Muita adrenalina nas veias. A respiração não regulava. As pernas estavam pesadas. Acho que o frio na barriga só passou depois do km 3. Passados os paralelepípedos do centro, começou a subida em estrada de chão. Tudo tranquilo, apesar do calor absurdo.
Não demorou muito para ingressarmos nas trilhas em mata fechada e pegarmos barro e lama. E não era pouco. Era muita lama! Havia atoleiros inacabáveis em todo percurso. A lama passava da canela. Durante um longo trajeto, o terreno era totalmente instável. Pra quem recentemente teve uma lesão no tornozelo, já foi um desafio e tanto caminhar naquele trajeto. Corri pouco onde havia lama e barro. O tornozelo estava frágil e reclamou. Preferi não forçar - poderia me custar mais uma lesão.
O mais difícil foi administrar o psicológico. As trilhas, na maior parte, são fechadas. Você corre entre o mato e entre plantações de bananeiras. No chão, o barro, a terra escorregadia, a lama. Nada facilita. Em pequenos pontos, você tem a vista do vale - que é espetacular - e alivia as tensões. Mas são poucos momentos de recuperação. Nas subidas, fomos bem.

A experiência com montanha faz diferença. Mas logo aparecem novos desafios. Confesso que pensei em desistir. Eu queria - e precisava correr - mas não conseguia - não enxergava o terreno, e, nas poucas tentativas, pisava em buracos e pedras, o que me deixava ainda mais temerosa. Tinha medo de cair, medo de me machucar, medo. Sei lá, passa muita coisa na cabeça. Na primeira metade da prova, eu era só sorrisos. Na segunda, eu só queria terminar.
Quando achava que o percurso ia melhorar, piorava. E assim foi quase toda prova. Somado a isso - sol e calor. Em todo trajeto, havia mangueiras e pontos de água colocados pelos próprios moradores. Eram paradas rápidas para retirar o grosso da lama e molhar a cabeça - já bastante zonza.
Quando o GPS marcou 18km, pensei "falta pouco! muito pouco". A partir dali, comecei a forçar um pouco o ritmo. Logo veio o trecho de asfalto. De início, achei que seria ótimo. Mas logo percebi que seria a pior parte. Isso porque eu já estava exausta (já tinham se passado mais de 4h30), o asfalto queimava, o sol torrava e ar parecia vapor. Não sentia mais as pernas. Não tinha dor, só cansaço. O Tomaz jogava água na minha cabeça a cada 10minutos.
Sempre com palavras de incentivo, era ele quem me "empurrava"! E assim, inacreditavelmente, eu corri quase todo trecho final. Quando o corpo dizia "chega", eu parava, respirava e seguia. A cabeça estava pesada. Só tinha vontade de chorar. Pensava "não posso parar!", "e se eu for cortada?", "será que vale a pena esse sofrimento?", "ah, como eu queria esta medalha!". E dentro de mim eu gritava "não vou parar". O Tomaz falava do meu lado incessantemente "você consegue!", "você não vai desistir".

E de repente, vi de longe a linha de chegada. Uma força veio sei lá de onde e me fez esquecer do cansaço e da exaustão. Corri. Mas corri muito. O tal sprint final veio a tona. E assim eu cheguei. De mãos dadas com meu amor. E me debulhando em lágrimas. Sensação de que nada mais é impossível, ainda mais quando duas pessoas sonham e treinam na mesma direção.
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