ESPECIAL TRC CORUPÁ - JULIANO MACHADO - CORRER É FÁCIL
- Juliano Machado
- 2 de mar. de 2016
- 8 min de leitura
A cada corrida uma emoção e uma sensação diferente, a cada prova uma oportunidade diferente e desta vez, a primeira até então, tive a oportunidade de além de representar a Picarelli Assessoria Esportiva representei também o grupo Correr é Fácil do amigo Frederico Vilhar na prova Brazil Mountain Festival etapa Corupá-SC.

A parceria que rola entre os corredores é algo que vai além de uma simples corrida, com algumas pessoas aprendo isso na prática. Um exemplo são os amigos Felipe Aranha e o Frederico Vilhar, Felipe compartilhando muita informação sobre corrida de montanha, apoio na logística em dia de provas e as vezes com empréstimo de equipamentos e Frederico me proporcionando oportunidades de correr em lugares que sozinho eu não teria condições de ir. Uma noite antes da viagem para Santa Catariana dormi na casa do Aranha e lá ganhei também da Paulinha e do Felipe Sachet géis de carboidrato para uso durante a prova. Na madrugada do dia seguinte Paulinha nos levaria até o Aeroporto Salgado Filho para o inicio da “ Expedição Corupá Extreme Marathon”.
Chegando no Aeroporto encontramos a amiga Karina Silva que iria com a gente pra prova, pegamos o voo rumo a Curitiba e de lá pagaríamos um carro alugado e seguiríamos rumo a Corupá. A viagem seguiu exatamente como o planejado, chegamos em Corupá por volta do meio-dia, fizemos contato como os amigos Marcus Vinícios e André Batista que já estavam por lá e combinamos de almoçar juntos. Depois do almoço descansamos um pouco na pousada e fomos curtir um pouco da cidade, já que a noite teríamos que estar presentes no congresso técnico da prova para pegarmos o kit e ficar por dentro das informações sobre a prova que teria largada na manhã do dia seguinte.

O que mais tinha na cidade eram montanhas e cascatas, tudo muito lindo, natureza para todos os lados já que a cidade é cercada por montanhas e morros. Tomamos banho de cascata, curtimos a paisagem e nos divertimos muito naquela tarde. Na noite de sexta-feira depois do congresso e do jantar das massas voltamos pra pousada para organizar os equipamentos para a largada que seria as 6:00 horas da manhã para o Felipe Aranha que faria os 50 km e as 8:00 da manhã para Karina, eu, André e Marcus que faríamos os 23 km. Na manhã seguinte acordei mais cedo do que deveria e fui assistir a largada dos 50k, lá encontrei o Tomaz, que também treina com a gente na Picarelli Assessoria. Assisti a largada e voltei pra pousada para tomar café e me organizar para a minha largada que seria em seguida.

A prova Corupá Extreme Marathon do Circuito Brasil Mountain Festival organizado pela TRC teve neste dia as modalidades de 12km, 23 km e 50 km todos os percursos apresentavam terreno com desnível positivo e negativo pegando estrada de chão, trilhas em mata fechada e muita lama as vezes passando por plantações da banana.
Posso falar mais sobre o percurso de 23 km, que foi o que fiz, já os demais não tenho tanta informação, neste percurso passei por experiências únicas até então, como por exemplos no começo da prova sofremos muito com o clima abafado e muito calor, depois no decorrer da prova subidas no meio da mata com a ajuda de cordas e em alguns momentos lama até no meio da canela, por vezes quase até os joelhos, tudo isso deixou a prova ainda mais desafiadora e no caso de nós que gostamos de aventura a prova foi muito boa, pois foi muito difícil. Prefiro provas de nível alto de dificuldade pois é aí que a gente tem a oportunidade de testar nosso preparo e a partir daí aprimorar técnicas e treinamentos para que a cada prova estejamos melhor preparados.

A prova começou pra mim de uma forma muito estranha e só fui perceber que o aconteceu no começo por conta do clima abafado depois de conversar com outros corredores que tiveram o mesmo problema que eu. Claro, uma das causas do meu “blackout” foi ter largado em um ritmo muito forte pra minha condição atual, correndo o primeiro km a 3 minutos e 45 segundos, corri sem GPS de pulso, marcando apenas pelo celular e depois que percebi que havia largado muito forte já era tarde demais. Depois do primeiro km em ritmo forte fui reduzindo aos poucos já que o percurso teria cerca de 6 km de estrada de chão antes de entrar na mata, durante os primeiros 6 km muita coisa passou pela minha cabeça, inclusive pensei em desistir, pensava: que se o sofrimento já estava sendo sentido nos primeiros quilômetros imagina como seria mais a frente.
Parei de correr varias vezes e caminhava lentamente quase parando por completo, senti falta de ar, tontura e em um momento pensei que fosse desmaiar, era uma sensação muito estranha, pesava em parar de vez, mas pensava também na minha família e na oportunidade que estava tendo de correr em um lugar tão bonito e tão longe de casa e por isso não desisti e levei o Correr é Fácil até o último quilômetro.

Como eu não entendia o que estava acontecendo comigo naquele momento eu tentava resgatar a vontade de correr e tentava a todo momento me conectar com a natureza, como sempre faço em provas de montanha, porém estava difícil e como reduzi drasticamente meu ritmo muita gente passou por mim, mas vi também vários outros corredores “ quebrando” e sentindo parecido comigo. Sofri muito até o primeiro ponto de hidratação, se não me engano lá pelo km 6 ou 7, e por lá parei um tempo para me hidratar e descansar um pouco, encontrei o André Batista, que tenho como um cara muito forte, que também estava sentindo a dificuldade do inicio da prova, com isso fiquei digamos que mais conformado pois se os fortes estão sentindo imagina pra mim que sou fraco (hehehe).
A conexão com a natureza que eu tentava buscar aconteceu no momento em que eu entrei na mata, foi aí que minha recuperação começou, claro, depois também de um gel da carboidrato, capsula de sal, água de côco e um banho de agua sobre a cabeça. Recuperei o ritmo que eu havia perdido e passei por muita gente na subida, onde a gente mais caminhava do que corria, mas sempre que dava eu tentava retomar o ritmo, foi num desses momentos que senti as melhores sensações que eu corredor poderia sentir, que é perceber que a sua condição física estava em conexão com sua mente e com a natureza, não sei explicar direito, mas é algo que te dá uma sensação de prazer, felicidade e gratidão.

Foto: Henrique Artico
Em seguida veio a trilha mais fechada do percurso e a subida com ajuda de cordas, nessa momento pedi licença para dois corredores que estavam na minha frente e passei por eles, passei mais uns 2 ou 3 em seguida antes de chegar no topo do morro e começar descer, mesmo estando recuperado e ter deixado pra trás alguns corredores eu não sabia quantos estavam na minha frente , pois além da elite que se manteve na frente desde a largada no momento em passei mal muita gente passou por mim, inclusive algumas mulheres.

Depois de muita subida teríamos que descer pelo outro lado do morro que subimos, nestas descidas que recuperei a confiança no meu joelho, desci forte e sem medo, embora já sentisse bastante dor nos dois tornozelos devido torções durante o percurso segui mantendo um ritmo razoável de 6 a 7 minutos por km. Corri por cerca de 50 minutos completamente sozinho no meio do mato, não conseguia alcançar os da frente e já havia abrido vantagens dos de trás. Em um ponto de hidratação parei para me lavar em chuveiro e me hidratar, tomei 3 copos de Coca-Cola e digo que naquele momento foi a melhor coca que já tomei na minha vida ( risos ).
Depois de boa parte de no meio do mato por trilhas e estradas chegamos no asfalto, segundo a organização da prova quando chegaríamos no asfalto era porque estaríamos próximos da chagada. Durante o congresso técnico fomos informados que teria uma alteração na distancia do percurso, e então o desvio pelo asfalto seria a alternativa para voltar ao ponto de largada e finalizar a prova. Quando entrei no asfalto de longe eu avistava outros corredores e minha ideia era chegar o mais próximo deles, porém meu estado físico era de cansaço e dor forte, como em todas as chegadas de provas longas.
Pelo meu GPS do celular já estava próximo dos 23 km, mas eu sabia que seria mais do que isso, talvez um pouco mais de dois quilômetros a mais que os 23. A cada morador que eu encontrava no trajeto de asfalto eu pergunta se estava perto do centro da cidade, uns me diziam que sim, outros que não, uns falavam que faltava 2 km outros que faltava 4 e eu cada vez mais cansado e o sol de perto das 11 da manhã batendo forte, meu GPS fechou com pouco mais de 27 km, mas importante do que se a distância foi maior ou menor do que o estava no regulamento foi que completamos a prova com saúde. Quando assei pelo último ponto de hidratação me sentei no chão e derramei o galão de agua sobre a cabeça pra me refrescar, melhorei um pouco do cansaço e passei por mais um corredor, conversei um pouco com ele e depois abri vantagem até a chegada.

Passei a linha de chagada e as lágrimas foram inevitáveis, a emoção tomou conta e a gratidão por aquele momento foi algo grandioso, agradeci a Deus pela saúde e ofereci aquela chegada a minha família e meus amigos. O resultado final foi de 21 na classificação geral e 5 na categoria 20/29 anos em uma prova de nível muito alto em que tinha entre os primeiros colocados Sergio Rodrigues, Jeferson dias, Rafael Bonatto entre outras feras que admiro muito, me sinto honrado e digo que foi um prazer correr na mesma trilha, lama e passar pela mesma linha de chegada que vocês! Outra coisa que me deixou feliz foi que nossa amiga Karina Silva em sua primeira prova de montanha representou muito bem trazendo pra casa a medalha de 3 colocada na categoria 20/29 anos.
No domingo, ainda com as pernas travadas por conta do esforço durante a corrida conheci um dos lugares mais incríveis que já fui, na a companhia de duas amigas que conheci na pousada e com o taxista mais divertido e louco de todos fomos até o parque das 14 cachoeiras, subimos por trilhas por cerca de 3 quilômetros até a ultima das 14 cachoeiras onde fomos brindados por uma chuva muito boa. Todas as cachoeiras são de beleza exuberante, mas a vista última foi de uma sensação muito boa, foi de se pensar na vida e ver como somos tão pequenos perante a força da natureza. O passeio e as companhias foram nota 10, o lugar é incrível, recomendo que quando puder vá até lá, conheça Corupá, converse com o taxista Cristo e se hospede na Eco Pousada. Resumo dizendo que Corupá é demais!!!
Para finalizar agradeço a Deus pela saúde, agradeço ao Correr é Fácil e ao Frederico Vilhar pela oportunidade de representa-los, muito obrigado aos amigos que lá correram também, agradeço a Picarelli Assessoria pelos treinos que têm me levado onde eu quero chegar. Foi um final de semana de fortes emoções e que será inesquecível pra mim.
MUITO OBRIGADO!!
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