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IRON MAN 70.3 BUENOS AIRES - WALTER TLAIJA

  • Walter Tlaija
  • 8 de mar. de 2016
  • 5 min de leitura

No domingo pasado, dia 6 de março, participei do meu primeiro desafio do ano, o Ironman 70.3 Buenos Aires. A prova, que estreava em solo argentino, aconteceu na cidade de Tigre, a 55km da capital federal, e contou com a participação de fortes atletas, tanto profissionais quanto amadores, de diversas partes do mundo. Foram 1.9km de natação, 90km de ciclismo e 21km de corrida, em sua maioria realizados dentro de um condomínio fechado, local perfeito para prática do triathlon. Centenas de expectadores acompanharam o evento, tornando a festa ainda mais bonita e animada.


A largada aconteceu em "ondas", de cinco em cinco minutos, começando às 7h30min com a elite masculina, seguindo com a elite feminina e as categorias etárias. Eu, bem como todos os demais atletas da categoria 30-34 anos, larguei por ultimo, às 8h55min. A natação foi fácil, tranquila, em um lago calmo e de agua quente. Nadei bem concentrado na técnica e na respiração, atento à frequência e à eficiência das braçadas. Não houve muita pancadaria e o percurso era muitíssimo bem demarcado, facilitando a orientação. Fiz força o tempo todo, imprimi meu ritmo, me fui posicionando como achava melhor e sai da agua satisfeito, ciente de ter feito uma boa natação. Esqueci de olhar o relógio mas imaginei algo por volta de 30min. Deu 30'21".




Fiz a transição bem rapidamente e montei na bicicleta. Ainda que contente com a boa natação, sabia que era ali, naquele momento, iniciada a segunda etapa da prova, que a brincadeira estava de fato começando pra mim. Treinei duro, treinei muito, melhorei significativamente meu ciclismo nos últimos dois meses, e estava determinado a colocar tudo isso em pratica, a me testar, a arriscar. Não sei bem por qual motivo, meu medidor de potência não funcionou direito, e, ja nos primeiros 500m, percebi que contaria unicamente com a sensação de esforço e com os indicadores de distância e de tempo.


Ok, sem problemas. Acertei a posição sobre a bike, ajustei a respiração e dei inicio àquela que, sem dúvida e para minha alegria, seria a parcela mais importante das três. Antes do km 30 eu ja tinha ultrapassado muita gente, incluindo atletas da elite feminina, que tinham largado havia mais de uma hora e que ja estavam na sua segunda volta. Passava voando, ganhando confiança e mais disposição para atacar!


O percurso era totalmente plano, mas com muitas curvas, retornos, rotatórias, e alguns trechos de asfalto bem ruim. O espaço reservado nas vias para os atletas era, em muitos casos, bem estreito, o que dificultava as ultrapassagens, oferecia perigo e gerava insegurança. Me mantive atento a tudo isso e não perdi o foco. Ao fim da primeira de duas voltas, dei lap no ciclocomputador e confirmei o que eu imaginava: média de 40km/h. Estava ótimo! No retorno, sob aplausos do publico e gritos de incentivo, respirei fundo, soltei as pernas, alonguei as costas e mentalizei o que viria pela frente. Divivi os 45km restantes em quarto partes de 10km e mais uma de 5km.


A cada 10km, ia checando o tempo em relação à distancia, tentando manter a média de 40km/h (no caso, cada 10km deveriam ser feitos em 15min, no máximo). Sempre que conseguia, nos retornos de 180 graus, observava a distancia que existia entre mim os adversários que conhecia. Destes, apenas um se aproximava, o argentino Gonzalo Acosta, meu rival em diversas disputas anteriores. Até o km 90 ultrapassei mais um bocado de gente, e não fui ultrapassado por ninguém. Terminei o ciclismo em 2'15"30"' - confirmando a ótima media de 40km/h - bem alimentado e hidratado, com bastante dor nas pernas mas vivo, muito vivo.


Entrei na transição voando, larguei a bike, calcei os tênis e lancei-me, tão seguro quanto curioso, para a etapa que seria a mais dolorosa, que mais me cobraria maturidade, concentração e inteligência. A lesão no calcâneo incomodaria, era certo, e o sofrimento não seria pequeno. À primeira passada no asfalto, dando inicio aos 21km, vi no relógio a marca de 2h48min de prova. Surpreso e feliz, fiz alguns cálculos rápidos: se corresse a 4min/km de média, fecharia com 1h24min a corrida e 4h12min a prova, batendo minha melhor marca, 4h14min; se corresse mais forte um pouco, fechando em 1h21min a etapa, digamos, passaria pelo pórtico com menos de 4h10min, obtendo, um excelente resultado.


Assim, fui ultrapassando as marcas dos primeiros quilômetros, ja sentindo dor no pé, mas com a musculatura trabalhando bem, respirando sem dificuldade e absolutamente concentrado. No primeiro retorno, perto do km 6, tratei de detectar meus adversários. Vi um, ja meio torto e sofrendo, a uns 500m na minha frente, e outro, o Gonzalo, a uns 400m atras, mas correndo muito bem e aparentando tranquilidade. Dentre os demais, não reconheci ninguém relevante. Na metade da corrida, terminando a primeira volta, a confiança e a determinação ganharam força quando olhei o relógio. Medi, de novo, a distância entre mim e meus adversários, e me decidi a correr forte dali até o km 16 e muito forte do km 16 até o fim.


No km 17 ultrapassei o cara que estava na minha frente, provavelmente liderando a nossa categoria. Vi que a diferença entre mim e Gonzalo, que me perseguia, tinha caído para 30 segundos. Era, então, a hora de dar tudo, de não errar, de tirar energia sei lá de onde, de esquecer a lesão, a dor, a falta de treinos de corrida, a fadiga muscular, o desconforto generalizado. Era hora de fazer valer a pena, de colher os frutos, de pensar em cada um que me ajudou, seja me apoiando financeiramente ou nos treinos; hora de agradecer, hora de acreditar em mim, hora de sentir a realidade e aceitar que sim, que eu estava prestes a conseguir! Estava a 4km de, ao que tudo indicava, ser o primeiro colocado da fortíssima categoria 30-34 anos, em uma prova internacional e de alto nível!


Com isso tudo passando pela cabeça, fiz com que o corpo se desligasse, apaguei-o. Pensava em cada passada, ouvia cada grito de incentivo, me deixava tomar pela energia externa. Fui assim até o km 19, quando, pela antepenúltima vez, olhei o relógio: 4h02min. É, eu terminaria abaixo das 4h10min. No km 20 queria ter olhado o tempo de novo, mas esqueci. Olhei logo em seguida, mas sem prestar muita atenção, confuso, sem entender direito o que via. Já avistando a placa do km 21, o pórtico, a galera toda, olhei pra trás e não vi ninguém que ameaçasse. Sorrindo, acenando em agradecimento, recebendo cada grito com o maior prazer, batendo na mão de cada criança que pra mim estendia o braço e meu nome exclamava, alcancei a chegada. Que feliz!


4'09"26'" no relógio, 1'20'30'" de corrida, sorrisão imenso no rosto, corpo esgotado, cabeça feita. Sem garantia nenhuma de resultado oficial, de colocação final, nada, mas satisfeito. Horas mais tarde, na premiação, depois de muita especulação e de muito fuçar na internet atras de números conclusivos, a confirmação: campeão da categoria 30-34 anos, melhor amador da prova e 12˚ no geral. Puta merda! Cacete! Uhuuuuuuuullll!!!



Walter Tlaija é triatleta, gaúcho, e participou do Mundial Iron Man 2015 em Kona, no Havaí. Colunista do CORRER É FÁCIL, ele escreve sobre os seus treinos e preparação para seus desafios. Em 2016, Tlaija vai disputar o Mundial de Half Iron, na Austrália.



 
 
 

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